1. Publiquei em 27de junho de 1974 um texto intitulado «Os ismos e os istas».
Nele escrevia: «Há que distinguir muito bem entre os homens e as ideias que professam. Com as ideias podemos ou não estar de acordo. Pode acontecer de, por uma questão de coerência e de imposição de consciência, haver necessidade de lutar contra as ideias. Os homens, porém, há que respeitá-los e amá-los». Mas o respeito pelas pessoas não deve ser motivo para que se não reponha a verdade.
2. Tenho-me manifestado, muitas vezes, em defesa do que considero ser a verdade histórica. Estou persuadido da existência de pessoas, que respeito mas de cujo procedimento discordo, interessadas em fazer vingar a história que lhes convém e não a verdadeira história. Isto em fidelidade a convicções ideológicas.
Referindo-se a acontecimentos ocorridos no século passado há quem insista nos crimes do nazismo – crimes reais, abomináveis, – e silencie os crimes do comunismo, merecedores de idêntica classificação. Fala-se em Auschwitz mas escondem-se os Gulag. A verdade é que houve ouve Hitler e houve Estaline.
3. O Parlamento Europeu aprovou no passado dia 18 de setembro uma resolução sobre a importância da memória europeia para o futuro da Europa. Teve 535 votos a favor, 66 contra e 52 abstenções.
Não a transcrevo na íntegra – é bastante extensa – mas apresento alguns dos seus parágrafos:
*«Recorda que os regimes nazi e comunista são responsáveis por massacres, pelo genocídio, por deportações, pela perda de vidas humanas e pela privação da liberdade no século XX numa escala nunca vista na História da humanidade, e relembra o hediondo crime do Holocausto perpetrado pelo regime nazi; condena veementemente os atos de agressão, os crimes contra a humanidade e as violações em massa dos direitos humanos perpetrados pelos regimes nazi e comunista e por outros regimes totalitários».
*«Salienta a importância de manter viva a memória do passado, uma vez que não pode existir qualquer reconciliação sem memória e reitera a sua posição unida contra todos os regimes totalitários, independentemente do seu contexto ideológico».
*«Exorta todos os Estados-Membros da UE a fazerem uma avaliação clara e assente em princípios sobre os crimes e atos de agressão perpetrados pelos regimes comunistas totalitários e pelo regime nazi;
manifesta profunda preocupação com a crescente aceitação de ideologias radicais e o retorno ao fascismo, ao racismo, à xenofobia e a outras formas de intolerância na União Europeia, e considera perturbadores os relatos de conluio de líderes e partidos políticos e forças da ordem com movimentos radicais, racistas e xenófobos de vários quadrantes políticos em alguns Estados-Membros».
*«Exorta todos os Estados-Membros a comemorarem em 23 de agosto o Dia Europeu da Memória das Vítimas de Regimes Totalitários, tanto a nível da UE, como a nível nacional, e a sensibilizarem as novas gerações para essas questões mediante a introdução da história e análise das consequências dos regimes totalitários nos programas e nos manuais escolares de todas as escolas europeias».
*«Apela a uma cultura comum da memória que rejeite os crimes dos regimes fascista e estalinista e de outros regimes totalitários e autoritários do passado como forma de promover a resiliência contra as ameaças modernas à democracia, em particular entre a geração mais jovem; encoraja os Estados-Membros a promoverem, através da corrente cultural dominante, o ensino da diversidade da nossa sociedade e da nossa história comum, incluindo o ensino das atrocidades da Segunda Guerra Mundial, como o Holocausto, e a desumanização sistemática das suas vítimas ao longo de vários anos».
*«Considera que a Rússia continua a ser a maior vítima do totalitarismo comunista e que a sua evolução para um Estado democrático será entravada enquanto o governo, a elite política e a propaganda política continuarem a «branquear» os crimes comunistas e a glorificar o regime totalitário soviético; exorta, por isso, a sociedade russa a confrontar-se com o seu trágico passado*.
Autor: Silva Araújo