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A Última Corrida

O piloto de motas Paulo Gonçalves faleceu em plena prova. Paulo Gonçalves, natural de Esposende, com 40 anos de idade, sucumbiu a uma queda, naquela que era a sua 13ª participação na maior prova da modalidade, o Rali Dakar. Todos percebemos que participar numa prova como o Dakar tem riscos elevados. Quem participa e a própria organização tomam todas as precauções, mas o acidente tem uma probabilidade enorme de acontecer, essencialmente pela configuração do terreno, pelo cansaço e pela velocidade que percorrem aqueles trilhos. Paulo Gonçalves nasceu para ser um “aventureiro” e piloto de motas. A alcunha de “Speedy” transparece a sua determinação e as suas características peculiares para esta modalidade. A sua perseverança, determinação e a paixão pelas motas configuraram um verdadeiro campeão. Esta prova, a decorrer pela primeira vez na Arábia Saudita, não estava a correr de feição, pois nas primeiras etapas tinha tido problemas no motor, mas nunca desistiu. Mas, até um guerreiro como o esposendense pode cometer erros e qualquer duna, obstáculo, podem ser traiçoeiros. Ninguém sabe o que aconteceu, não há registos ou relatos do acidente. O pouco que se sabe foi testemunhado por um outro participante, com fortes aspirações à vitória na prova, que se apercebeu da gravidade da queda e prescindiu de continuar o seu percurso para lhe prestar os primeiros socorros. Também o próprio Paulo Gonçalves, em 2016, teve o mesmo gesto, ao parar para ajudar um companheiro de corrida. O piloto que o ajudou, o australiano Toby Price, fez uma declaração comovente, que reflecte o grau de grandeza destes campeões: “Nós somos humanos e isto não é apenas uma corrida. Abdicaria de todas as minhas vitórias para ter alguns dos meus amigos da corrida de volta...” A vida é muito mais importante que a corrida. Após a confirmação do fatídico acidente, a onda de consternação foi geral, o País acordou chocado, pois o piloto português granjeava muito respeito e admiração. A sua equipa (Hero) abandonou a prova, porque não reuniam as condições emocionais para continuar. Todos se juntaram para homenagear o piloto português. Portugal, e em particular a sua terra natal, têm um papel importante em não deixar esmorecer os feitos e o perfil, humano e desportivo, do piloto português. Paulo Gonçalves carregava no peito o seu País e a sua terra natal. Este minhoto nunca esqueceu as suas origens. O piloto de Esposende consta agora numa lista muito negra de acidentes fatídicos, que engrossa a cada edição, num vasto leque de pessoas (participantes, organizadores, espectadores) que ao longo da história do Dakar têm aumentado esta lista negra de uma belíssima prova desportiva. O “Speedy” faz também parte da história porque acompanhou a deslocação das edições feitas em África para a América do Sul e, agora, na Arábia Saudita, em busca do seu sonho e paixão. Agora, resta-nos não esquecer o seu percurso e exemplo. Foi a sua última corrida, mas não poderá ser o fim de linha da sua influência e memória. A toda a sua família e amigos, para quem o Paulo Gonçalves é muito mais que um campeão, manifesto as condolências e o pesar pela sua perda.


Autor: Carlos Dias
DM

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18 janeiro 2020