A tragédia do Funchal e a queda de uma árvore numa rua à beira de um jardim que matou uma pessoa há cerca de um ano, revelam a falta de senso, a falta de comando e o relaxe de responsáveis da câmara municipal do Funchal (e não só). Há uns tempos, eu subi ao ponto mais alto da encosta do Funchal, onde se dizia que o turista teria uma vista magnífica abrangendo todo o Norte e a baía, etc.. A estrada é extremamente sinuosa. Por isso, embora num carro ligeiro, tive de subir com muito cuidado, até porque desciam autocarros que ocupavam parte da minha faixa de rodagem. Quando cheguei ao cimo do “Pico do Ruivo”, como se chama, nada consegui ver: havia intenso nevoeiro que tornou a minha visita inútil. A descer tive de ter cuidados redobrados especialmente na zona com neblina que era acompanhada de chuva muito miúda que tornava o pavimento da estrada escorregadio, pois havia também nele folhas mortas de árvores que tornavam a minha travagem ineficaz. À beira da estrada há falésias, pelo que qualquer viatura que saia meio metro da margem cai, num barranco, com as consequências que a tragédia recente mostrou. No cabo Girão da Ilha existe a falésia mais alta do mundo. Tudo isto para dizer que os responsáveis da câmara municipal deveriam ter instruído a Polícia de Segurança Local, para, nesse dia chuvoso como mostraram as fotos das TVs, impedir o acesso à estrada que leva ao Pico do Ruivo e a outras estradas que levam a situações de igual risco. Com esta tragédia e outros desastres similares, o Turismo da Madeira sobre rombos enormes. A incúria dos responsáveis camarários não se revela só no Funchal, onde há cerca de um ano uma árvore de um recinto municipal mostrou “vontade” de cair e ia ameaçando todo os dias os próprios “fiscais” camarários com esse “acontecimento”. Como ninguém ligou a essas “súplicas” de ajuda para a sua fundação, a árvore “resolveu” mesmo cair e matar uma pessoa que passava. Também por essa data um tempo chuvoso e ventoso levou a um deslizamento de terras nas margens de uma das ribeira que drenam para a baía do Funchal, que matou dois residentes e destruiu a respectiva habitação e um carro. Perguntei a um colega que aí mora se não haveria qualquer projecto de estabilização dessas encostas. Muito em segredo, consegui que me indicasse forma de obter cópia de um projecto feito exactamente para a zona desse deslizamento, cujas obras foram feitas só por metade por não haver dinheiro para as concluir. Verifiquei que o projectista, certamente não competente em Geotecnia, não tinha entendido as razões desses deslizamentos. Por isso as obras feitas e as previstas eram (são) perfeitamente inúteis no que diz respeito a evitar deslizamentos. Com muita dificuldade, consegui que outro colega do LNEC local mandasse tirar amostras dos solos dessas barreiras e me mandasse resultados das granulometrias. Também consegui ter ideia de que a rocha dura só se encontra a vários metros de profundidade da superfície do talude. Com esses dados, um aluno finalista de ECivil da Universidade da Madeira fez uma “Minitese” para o seu “Mestrado Integrado” onde havia cálculos que mostravam que só com ancoragens de comprimento superior a uns 15m, pode haver segurança contra o deslizamento do respectivo talude. Ofereci-me então para fazer gratuitamente um Projecto Geotécnico de Obras que garantissem a estabilidade desses taludes, mesmo em épocas chuvosas, com a condição de haver uma Fiscalização Técnica da Obra, da minha confiança, que garantisse a boa execução da Obra. Esta pré-proposta foi ventilada por mim a um colega especialista em Geotecnia da Universidade da Madeira, o qual, por razões de “pruridos” políticos, me disse que não queria ter qualquer intervenção nesse assunto. Pensei até que Ronaldo pudesse ajudar monetariamente para essas Obras muito úteis para a sua terra natal. Tudo inútil. Como de costume, depois de cada tragédia nada acontece governamentalmente… Também seria possível projectar Obras que tornassem segura contra a queda de viaturas em barrancos na estrada que conduz ao Pico do Ruivo, mas seria perder tempo pensar nesse assunto.
Aqui mesmo em Braga, passam-se situações semelhantes, felizmente menos dramáticas: Há uns dois anos, do jardim na frente da “Torre Europa”, caiu uma árvore sobre o pavimento da rua que circunda o conjunto, criando uma enorme complicação na circulação do trânsito. Seguramente que por ali passaram muitos funcionários da câmara, mas “não foi da conta deles” comunicarem a quem mandasse remover a árvore. Nem os dos lixos o fizeram. Pelo que o trânsito esteve impedido cerca de uma semana… Também já aqui referimos os grandes “DESLEIXOS” que levaram aos desastres das pedreiras. De certeza que as mortes vão continuar, porque depois de cada tragédia, mesmo com muitos mortos, NADA vai acontecer neste “rectângulo à beira mar plantado…”. Tudo isso tem a ver com a IRRESPONSABILIDADE que grassa em muitos serviços públicos. Repare-se que nas comemorações deste último 25 de Abril e do 1.º de Maio, em todas as TVs surgiram variados “chefes” de partidos, de sindicatos e de governantes a falarem dos sacrossantos “DIREITOS” dos trabalhadores, mas não ouvi uma única vez ALGUÉM falar dos “DEVERES” dos trabalhadores, que, quanto a mim, também são sacrossantos. Depois, a própria burocracia dentro de muitos serviços camarários, e noutros, está altamente viciada, pois o Presidente, se o é, deveria determinar que QUALQUER funcionário que visse qualquer acontecimento que prejudicasse os munícipes, teria o DEVER de o participar aos seus superiores.
Autor: J. Barreiros Martins
“A tragédia da Madeira. E a falta de senso de responsáveis”
DM
7 maio 2019