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A sua presença é fundamental, «hoje»!

  1. Aparentemente e como notou Josep Vives, «Deus está ausente e ninguém tem saudades».

A alternativa é a idolatria na sua pluriforme expressão. «O homem moderno – sinaliza Ernest Beckey – bebe e droga-se até perder a consciência, ou então passa o tempo a fazer compras».

  1. Neste quadro, Michael Paul Gallager apontou o óbvio.

A elefantíase do consumismo dita que «a religião tende a ser reduzida a mais um produto na “prateleira do supermercado”».

  1. Em vez de uma vida humana à imagem de Deus, deparamos com uma visão de Deus à medida do homem.

Na prática, é uma revivescência da conhecida máxima de Feuerbach: «O homem é um deus para o homem».

  1. Assim sendo e voltando a Michael Paul Gallager, «a religião pode tornar-se uma espécie de “música de fundo” agradável para vidas desorientadas ou imaturas».

E, mais concretamente, o Cristianismo arrisca converter-se numa soporífera «alienação da realidade, pessoalmente consoladora, mas sem nada de desafiante». Limita-se a ser «atraente para um entusiasmo rápido […], mas evitando a profundidade de um seguimento».

  1. Agora que o «relógio do mundo» – que tinha «parado» no início de 2020 – vai retomando o seu andamento, avulta a dificuldade em motivar para uma participação efectiva e contínua nas celebrações e demais actividades da Igreja.

Ainda não somos uma «sociedade desigrejada» (Tomás Halik), mas podemos surgir como uma «Igreja desconjuntada».

  1. Sucede que, mais do que denunciar comportamentos que se vão impondo, precisamos de exercitar a atenção.

Será que estamos atentos ao que vai «gestando» na vida das pessoas?

  1. É sabido que as adversidades – incluindo as maiores catástrofes – costumam desencadear prolongados processos de transformação.

Basta olhar para a conversão dos habitantes de Nínive, após o anúncio da destruição iminente (cf. Jn 3, 4). Ou para a transfiguração do (chamado) «filho pródigo» depois das provações que suportou (cf. Lc 15, 14).

  1. É notório que a presente pandemia parece inaugurar a longa gestação de uma nova realidade.

E neste «kairós» temos de ser mais «gestadores» do que «gestores»: mais «gestadores» daquilo que (ainda) nem sequer se prefigura do que «gestores» da mera conjuntura.

  1. Não nos é lícito ficar pela repetição de enunciados genéricos. É urgente aterrar no concreto.

Não basta ficar à espera. No fundo, há quem, como escreveu Saint-Exupéry, clame silenciosamente: «Por favor, cativa-me».

  1. É necessário sair e fazer sentir a cada um que a sua presença é fundamental e bem-vinda, «hoje». Em cada «hoje»: nas celebrações, nas decisões e em todas as acções.

É chegado o momento de erradicar – de vez – a frieza nas relações eclesiais. É tempo de voltar a fazer sobressair a alegria de viver em conjunto, de estar com o outro, amando-o como irmão (cf. 1Jo 4, 21)!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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19 outubro 2021