Celebra-se amanhã o segundo Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, com o lema extraído do salmo 92, 15: «Até na velhice continuarão a dar frutos».
O Papa não se detém a analisar o salmo 92, mas não ficaremos a perder enquadrando a citação. Diz-nos o cardeal Ravasi em «I Salmi» (2006), que, segundo a Mishnah, grande recolha de tradições bíblicas: «No sábado canta-se o Cântico do dia do sábado (salmo 92), cântico para o tempo futuro, para o dia que será totalmente sábado e repouso para a vida eterna». (pp. 398-399). Para o justo, é um hino optimista, musical e cheio de alegria (vv. 2-5) «seguro e esperançoso, porque bebe daquela fonte de fecundidade e vigor que são o amor e a fidelidade de Deus. A caminhada do justo é uma marcha triunfal para a beleza do templo, que é área de vida e de paz, e para doçura da comunhão com Deus». (399)
As raízes em que se sustenta o justo são semelhantes às das palmeiras e dos cedros do templo: mergulham em Deus, e a eternidade é a sua linfa. Ravasi dedica este salmo a todos os idosos, e sobretudo aos presbíteros, cujas raízes espirituais se alimentaram sempre no terreno do templo, isto é, na fé e na oração. (399). É para aí que Francisco aponta no final da mensagem, incluindo-se também ele entre os idosos: «estamos chamados a ser artífices da revolução da ternura! Façamo-lo aprendendo a usar cada vez mais e melhor o instrumento mais precioso e apropriado que temos para nossa idade: a oração». E acrescenta imediatamente, citando a 7ª catequese sobre a família, dedicada aos avós, em março de 2015: «Tornemo-nos, também nós, um pouco poetas da oração: adquiramos o gosto de procurar palavras que nos são próprias, voltando a apoderar-nos daquelas que a Palavra de Deus nos ensina». Ciente de que: «A nossa imploração confiante pode fazer muito: é capaz de acompanhar o grito de dor de quem sofre e pode contribuir para mudar os corações. Podemos ser o ‘grupo coral’ permanente de um grande santuário espiritual, onde a oração de súplica e o canto de louvor sustentam a comunidade que trabalha e luta no campo da vida».
Mais do que nunca, é vital a oração para desmilitarizar os corações, permitindo que cada um reconheça no outro um irmão. «E nós, avós e idosos, temos uma grande responsabilidade: ensinar às mulheres e aos homens do nosso tempo a contemplar os outros com o mesmo olhar compreensivo e terno que temos para com os nossos netos. Aprimoramos a nossa humanidade ao cuidar do próximo e, hoje, podemos ser mestres de um modo de viver pacífico e atento aos mais frágeis. A nossa atitude poderá, talvez, ser confundida com fraqueza ou servilismo, mas serão os mansos – não os agressivos e prevaricadores – que herdarão a terra» (Mt 5, 5).
Um dos frutos que nós os idosos estamos chamados a produzir é o de guardar o mundo. Afirma Francisco com especial ternura: «Todos nos sentamos nos joelhos dos avós, que nos tiveram ao colo», (cita a homilia do 1º Dia dos Avós e dos Idosos). E prossegue: «hoje é o momento de colocar sobre os nossos joelhos – com a ajuda concreta, ou mesmo só com a oração -, juntamente com os nossos netos, muitos outros assustados que ainda não conhecemos e que talvez fujam da guerra ou sofram por causa dela. Guardemos no nosso coração – como fazia São José, pai terno e solícito – os pequeninos da Ucrânia, do Afeganistão, do Sudão do Sul…»
O desafio mais incisivo a uma vivência caminhando em conjunto está nesta afirmação: «não nos salvamos sozinhos; a felicidade é um pão que se come juntos. Testemunhemo-lo àqueles que se iludem de encontrar a realização pessoal e sucesso na contraposição. Todos o podem fazer, mesmo os mais frágeis: até mesmo o deixarmo-nos cuidar – muitas vezes por pessoas que provêm doutros países – é uma maneira de dizer que é não só possível, mas também necessário vivermos juntos». Convite extensivo a fazer festa com os idosos e a celebrar juntos este dia, visitando os idosos mais abandonados, em casa ou nas residências onde estão hospedados. Que ninguém viva este dia na solidão. Ter alguém para cuidar pode mudar a orientação dos dias de quem já não espera nada de bom do futuro; e de um primeiro encontro pode nascer uma nova amizade. A visita aos idosos abandonados é uma obra de misericórdia do nosso tempo!»
Com Francisco, rezamos: «Nossa Senhora, Mãe da Ternura, faça de nós dignos artífices da revolução da ternura, para, juntos, libertarmos o mundo da sombra da solidão e do demónio da guerra».
Autor: Carlos Nuno Vaz