No decorrer dos debates televisivos tendo em vista as próximas eleições autárquicas fui-me apercebendo que a tónica das narrativas dos candidatos, do universo dos partidos políticos e dos independentes, se acentuou na habitação e na mobilidade. Sobretudo, no que concerne às cidades do nosso país, incluindo a nossa bimilenária Bracara Augusta. Logo, há uma preocupação em ninguém ficar ao relento, nem apeado por falta de transporte para as suas deslocações diárias e se sinta livre de dificuldades nos trajetos pedonais e cicláveis. Para além disso, há as questões de ordem ambiental, plasmadas nas agendas de cada candidato, devido às alterações climáticas que tanto afetam o mundo de hoje.
Ora bem, referindo-me à mobilidade devo dizer que ela não é uma prioridade só de agora pois, quanto sei, já vem de longe. Pelo que ainda me consigo recordar dos – saudosos – elétricos citadinos e dos primeiros 5 autocarros chegados aos ‘Serviços Municipalizados’, de então, encarregues de gerirem essa ‘minifrota’. E lembro-me de rodarem tão lentos, ao ponto de desistirmos da viagem – entre Merelim e a cidade dos Arcebispos – à entrada da ‘Cónega’. Direi, que parece mentira, mas é verdade: alguns de nós, os mais novos, saíamos do autocarro, subíamos a referida artéria – a ‘calcantes’ – e chegávamos ao Largo do Pópulo antes dele.
Facto pelo qual a rua da Boavista, ou ‘Cónega’, ficou a povoar o meu imaginário desses tempos de menino e moço. Sendo uma rua que, ainda hoje, utilizo amiúde. Porém, a imagem que dela tenho desses velhos tempos é a mesma de hoje, pois pouco ou nada foi beneficiada pelos autarcas, gestores da coisa pública citadina e da União de Freguesias a que respeita. É que, nos dias que correm, não há médico que não aconselhe, a quem ainda puder, a terapia de andar a pé: – ‘faz bem á saúde’ – dizem
Com efeito, andar por ali é uma autêntica aventura, pese embora só haver trânsito no sentido descendente. É que se não fosse o estacionamento ao longo do seu percurso, os passeios poderiam ser bem mais desafogados. Só que, isso, são contas de outro rosário que se prendem com as gentes humildes que lá residem, sem garagens nem meios próprios para pagarem aparcamentos noutro lado, ainda que a preços módicos. Porém, seria uma questão de compatibilização.
Graças a Deus que nunca, ali, me espalhei ao comprido, pois já sei de cor o que por lá há. Embora não esteja livre, dada a minha proveta idade, de um tombo naqueles exíguos passeios repletos de irregularidades, pelo que só me resta ter cautela a fim de não ter de ir fazer uma visita – o diabo seja surdo – à urgência hospitalar. Direi mesmo que, sobretudo a parir do túnel para baixo, a coisa já teve melhores dias, se bem que o aspeto geral é o mesmo dos primórdios do século XX. Isto, apesar de os moradores continuarem a renovar as suas habitações.
Se ao menos aparecesse um Edil capaz de mandar dar um jeito à rua em questão, outro galo cantaria. Pelo menos, endireitando o seu percurso pedonal e resguardando os degraus de entrada às habitações, com gradeamentos de proteção, menorizando, dessa feita, o perigoso desnível em relação aos passeios. A não ser assim, qualquer passada em falso poderá ser a morte do artista, mormente nas escuras noites de invernia em que os transeuntes, com dificuldades visuais ou sem elas, se sentem inseguros ao passar naquela que é a “Rua do Sobe e Desce”.
O que é de lamentar, é que do imenso dinheiro que a Autarquia bracarense gere só sobre verba para gastar em pintura de linhas vermelhas, inúteis, nos pavimentos das artérias citadinas. Isto, em vez de ser usado para beneficiar muitas das ruas da nossa cidade onde não é gasto um euro há largos anos, mas cujas pessoas que lá vivem dão votos e muitos. Pois podem crer que no dia em que deixarem de se lembrar da ‘Cónega’ só na Páscoa – dotando-a de alguma dignidade – aqui estarei a tecer loas a quem as merecer, seja ele Presidente de Câmara, ou de junta e da cor política que for.
Autor: Narciso Mendes