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A revogação do milagre

Daí terem nomeado como presidente deste organismo a “Nossa tia Teodoro”, título que usei neste jornal, quando escrevi sobre um conselho que Teodora Cardoso deu a Passos Coelho e, que apesar de já estarmos no auge negativo de cortes e de saques ao povo, aconselhou: “Nos salários e nas pensões depositadas dos funcionários públicos, sempre que estes façam levantamentos do seu dinheiro têm de pagar uma taxa ao Estado para os obrigar à poupança”. 

Ora, este surreal conselho, a ser lei, podia afirmar-se de seguida que nem Salazar foi tão longe, porque ele pedia para se “trabalhar e poupar”. “Pedia”, note-se! Mais: nunca os funcionários públicos pediram para que os seus salários e pensões fossem depositados. Logo, os levantamentos são livres e o dinheiro de salários e pensões não podem ser eventuais receitas do Estado, uma vez que certos depósitos já pagam aos bancos para lhes guardarem o dinheiro.

A tia Teodoro, fã de Passos Coelho – que não tem mal nenhum nisso – foi dizendo sempre maravilhas dos seus Orçamentos do Estado, mesmo sabendo que os portugueses viviam, já nessa altura, um dos piores momentos das suas vidas. E como Passos foi subserviente a Merkel, a tia Teodoro foi e é-o a Passos Coelho. 

Mas como actualmente é António Costa – embora imposto ao povo – o primeiro-ministro de Portugal, a tia Teodoro, que é fiel ao seu fã, repito, “cria o pânico na execução orçamental, não ajuda na sua execução” e tudo minimiza: foi aos pontos a tia Teodoro de, em declarações a um jornal diário e à Rádio Renascença, declarar que “o défice de 2016 foi alcançado até certo ponto como que por milagre”. Teodora Cardoso sabe – porque economista – que sem reformas estruturais, com o congelamento dos investimentos, com aumentos fiscais e com perdões da dívida ao fisco por oportunistas da sociedade, o crescimento não existe. E o “milagre” apontado da tia Teodoro é como quem diz: a continuação dos cortes de toda a espécie e a fome dos mais débeis, não se resolve assim.

Ora, os socialistas não gostaram desta afronta: “foi de certo modo um milagre”. Não gostaram que Teodora não visse neste Governo – que lhe paga o ordenado – mérito e trabalho. Assim, Costa vingar-se-á e a esquerda radical não admite que lhes apontem os dedos, mesmo que seja preciso silenciar violentamente os inimigos. Teodora pagará pela dor da cotovelite e pelo arrojo, os quais irão causar a extinção do organismo que preside. Ora toma! Os comunistas e os bloquistas querem-na, os socialistas vão pensar nisso e as declarações Teodorenhas justificam que seja mandada para frente à lareira, uma vez que “tal organismo não é de todo necessário aos portugueses”.

António Costa, que jeito tem para “democraticamente só” resolver ou solucionar os problemas – não os da democracia – desta vez terá de auscultar as vigas que lhe servem de suporte de primeiro-ministro-imposto e extinguir o Conselho de Finanças Públicas. Para que não houvesse dúvidas e para que os seus pares ficassem contentinhos, afirmou já que parece impossível Teodora “invocar o nome de Deus e não reconhecer o que é simples de reconhecer, que é o monumental falhanço de todas as previsões do Conselho de Finanças Públicas, ao longo de 2016”, feitas por ela.

O próprio Presidente da República, instado a responder ao “milagre” declarado por Teodora Cardoso, disse, sorrindo: “Milagre este ano em Portugal só vamos celebrar um que é o de Fátima para os crentes, como o meu caso, tudo o resto saiu do pêlo e do trabalho dos portugueses desde 2011/2012”.

Como é evidente, a tia Teodoro fez como os cristãos da IURD: falou de milagres em dia e horas marcadas, num jornal diário e na rádio, pisando terreno ensebado. Esqueceu a presidente do Conselho de Finanças que quem dá ordens no país e no organismo que preside é Catarina Martins e Jerónimo de Sousa. Assim sendo, e como o peixe morre pela boca, comunistas e bloquistas revogarão o milagre nacional e, de forma indirecta e por obrigação, o revogarão António Costa e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

(O autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico).

 

Autor: Artur Soares
DM

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10 março 2017