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A recandidatura de Ricardo Rio e as Eleições Autárquicas

Numa sucinta avaliação do que tem sido a governação de Ricardo Rio e de toda a sua equipa, é fundamental recuar aos tempos da administração de Mesquita Machado. Encontraremos facilmente não só uma diferenciação abismal de horizontes, como também uma enorme diferença de estilo.

Há quatro anos, Braga era uma cidade fechada sobre si própria, onde imperava a necessidade de manter interesses e de satisfazer clientelas enquistadas nos corredores do poder. Hoje, vive insubmissa, respira mais liberdade e está de portas abertas aos quatro cantos do mundo. No passado, Braga era uma cidade aprisionada, no presente é uma urbe dinâmica e cosmopolita lançada para o futuro.

Esta é em síntese a apreciação que a maioria da população bracarense faz da execução do primeiro terço do projeto da coligação, “Juntos por Braga”, liderada pelo atual presidente e que a levará certamente a uma vitória ainda mais expressiva nas próximas eleições do dia 1 de outubro.

Eleições Autárquicas que, apesar de muitos lhe negarem uma importância de âmbito mais alargado, podem vir a ter uma leitura nacional bem mais expressiva, tendo em conta o que o país tem testemunhado nas últimas semanas.

Na realidade, quando Portugal parecia ter-se transformado em “terra de leite e mel”, a tragédia de Pedrógão Grande e o recente roubo de material de guerra de um dos paióis da base de Tancos vieram trazer para a ribalta fragilidades que a grande maioria dos portugueses nunca imaginou poderem existir no seu país.

O incêndio que assolou o interior da região centro e que se transformou numa das maiores tragédias de sempre, volvidas mais de duas semanas, continua envolto em polémicas, em acusações, num passa-culpas que não honra ninguém e que apenas enfraquece as instituições e a quem nelas superentende. 

Por sua vez, o furto de várias e sofisticadas armas de guerra representa, a nível interno, uma falha intolerável de segurança e, junto da comunidade internacional, mostra as nossas debilidades, constituindo um rombo de proporções inestimáveis na nossa credibilidade externa.

Nesta perspetiva e no contexto tormentoso que, de repente, assolou o nosso país neste início de verão, as próximas eleições podem constituir, sobretudo nas grandes malhas urbanas, uma válvula de escape para desencantos, desânimos e frustrações. 

Numa recente entrevista, Pedro Santana Lopes disse “na política pode-se morrer muitas vezes”, e eu atrevo-me a dizer que na política raramente há certezas adquiridas. Os exemplos abundam e basta recordar o que aconteceu a Teresa May nas últimas eleições parlamentares do Reino Unido, em que a tragédia de Grenfell foi o princípio da sua derrocada.  

Acredito que neste tempo que medeia até outubro tudo poderá ficar mais esclarecido. Tenho esperança que desta vez o país possa tirar definitivamente as lições de tantos adiamentos e ponha em prática as medidas que nos aliviem do flagelo dos incêndios que ciclicamente nos batem à porta. Admito que o ocorrido em Tancos possa servir de exemplo e leve à adoção de procedimentos adequados para impedir que acontecimentos desta natureza nunca se venham a repetir.

No entanto, se nada acontecer, o Governo ficará enfraquecido e o Partido Socialista poderá pagar a fatura feita pelo demo, que terrivelmente apareceu mascarado de fogo e de ladrão.


Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira
DM

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4 julho 2017