No dia 20 de março celebra-se o Dia Internacional da Felicidade. A data foi proclamada em 2012 pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Pretendia-se que os Estados-Membros desenvolvessem novas medidas que refletissem a “importância da busca da felicidade e do bem-estar no desenvolvimento dos povos”. Reconhecia-se que a “busca da felicidade é um objetivo humano fundamental (…) felicidade e bem-estar são objetivos e aspirações universais”. Com base nestes objetivos reconhecia-se, também, a “necessidade de uma abordagem mais inclusiva, equitativa e equilibrada do crescimento económico que promovesse o desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza, a felicidade e o bem-estar de todos os povos”.
Todos sabemos como são indispensáveis as medidas que visem satisfazer as necessidades básicas de cada pessoa e de cada sociedade de forma justa e equitativa, mas sentimos que é necessário ir mais além, mesmo as melhores práticas de organização social não são suficientes para tornar uma sociedade feliz. Também num típico Estado-providência se reconhece que aquilo que é hoje mais urgente é contrariar a sensação de falta de sentido, a chamada neurose de massas. É, pois, necessário compreender essa necessidade tão profundamente humana da “busca da felicidade”.
Viktor E. Frankl, no seu livro A voz que grita por um sentido, diz algo paradoxal: “é a própria busca da felicidade que impede a felicidade.” A felicidade não pode ser um objetivo a atingir, mas a consequência de algo realizado. A mensagem é que a felicidade depende de um "para quê" ou "para quem". E acrescenta: «O facto antropológico primordial humano é estar sempre dirigido e orientado, para alguma coisa ou alguém fora de si: para um sentido para cumprir, outro ser humano para encontrar, uma causa para servir ou uma pessoa para amar. E chega a esse ponto não por se preocupar com a sua própria realização, mas sim esquecendo-se de si mesma, entregando-se, não se importando consigo e focando-se no exterior.» Para Frankl é necessário “redescobrir a dimensão humanista” e isto é tarefa de todos, dos jovens aos menos jovens e em todas as circunstâncias.
Em Cracóvia o Papa Francisco dirigia-se aos jovens: «“As coisas podem mudar?”. E juntos, vós gritastes um “Sim!” retumbante. Aquele brado nasce do vosso jovem coração, que não suporta a injustiça e não pode submeter-se à cultura do descartável, nem ceder à globalização da indiferença. (…) Um mundo melhor constrói-se também graças a vós, ao vosso desejo de mudança e à vossa generosidade.»
O Papa João Paulo II dirige-se aos anciãos: «Em um mundo como o atual, no qual são muitas vezes mitificados a força e o poder,tendes a missão de testemunhar os valores que deveras contampara além das aparências, e que permanecem para sempre porque estão inscritos no coração de todo o ser humano. (..) tendes uma contribuição específica a oferecer para o desenvolvimento de umaautêntica "cultura da vida"(…) A vossa maturidade impele-vos a compartilhar com os mais jovens a sabedoria acumulada com a experiência, sustentando-os na fadiga de crescer e dedicando-lhes tempo e atenção. Podeis desempenhar para eles uma tarefa deveras preciosa.»
Finalmente, em todas as circunstâncias, Frankl afirma: «Nunca devemos esquecer que também podemos encontrar significado na vida mesmo uma situação desesperada (…) Porque, nesse momento, aquilo que conta e importa é testemunhar o potencial exclusivamente humano no seu melhor: o de transformar uma tragédia num triunfo pessoal, transformar o sofrimento numa proeza humana. Quando já não somos capazes de mudar uma situação somos desafiados a mudar-nos.»
Neste momento particularmente dramático que estamos a viver vem a propósito esta assertiva reflexão de Frankl: «Penso que a investigação para a paz, em vez de se reduzir à repetição de clichés sobre potenciais de agressão e conceitos do género, devia focar-se na vontade de sentido e levar em consideração que aquilo que é verdade para as pessoas individualmente é também válido para a humanidade. Não dependerá a sobrevivência da humanidade de os homens encontrarem, ou não, um denominador comum de sentido? Não dependerá de as pessoas, e os povos, encontrarem um sentido comum, se unirem numa vontade coletiva para o atingirem? Não tenho a resposta. Já ficaria feliz se soubesse que fiz a pergunta certa. Mas parece que, em última análise, só há esperança para a sobrevivência do planeta se as nações conseguirem unir-se para enfrentarem uma tarefa comum e se comprometerem a levá-la a cabo.
Até agora, a única coisa que podemos dizer é que estamos a caminho. Mas a busca de um sentido por parte do homem é, evidentemente, um fenómeno de alcance mundial de que a nossa geração é testemunha. Porque não haveria esta busca comum de um sentido conduzir também a uma meta e propósito comuns?». (Excerto do livro acima referido.)
Autor: Rosa Ventura
A propósito do Dia Internacional da Felicidade

DM
20 março 2022