Não há dúvida que o tempo passa, por vezes, duma forma tão célere, que quase não podemos pensar no que acontece à nossa volta. Por outras, sobretudo quando os nossos interesses encaram com dificuldade algum assunto ou acontecimento menos agradável, dir-se-ia que para, não avança, e lança à nossa volta uma espécie de cola que não nos deixa andar com a presteza que desejávamos.
No próximo domingo, dia 26 de Setembro, estão marcadas as eleições autárquicas. Decerto que as temos de encarar como um cidadão honrado que cumpre os seus deveres e exerce os seus direitos, quando a sociedade a que pertence e onde vive o chama a dar o seu contributo.
Isto significa, em primeiro lugar, que todos os eleitores devem votar e não desligar-se da importância de o fazer, imaginando para si mesmo uma desculpa cómoda: “Se não votar, não é pela minha ausência que os resultados serão alterados”.
Numa sociedade democrática, onde todos são chamados a dar a sua opinião sobre o que se passa ao seu redor, nomeadamente através do voto, o abstencionismo é uma doença cómoda, motivada pelo egoísmo de cada um dos que concorrem para engrossar, por vezes de forma doentia, o desinteresse pelo bem comum.
È de crer que as eleições a que nos referimos, por serem locais, suscitem nos cidadãos mais vontade de deixar o seu parecer e escolha, nas urnas de voto. Conhecem-se com mais facilidade quem são as pessoas concorrentes aos diversos cargos, e em meios mais pequenos, é provável até que já se tenha convivido com elas por razões diversas, etc. Nos outros actos eleitorais, o conhecimento que se tem dos candidatos é capaz de ser muito menor e, por isso mesmo, não se torne tão fácil manifestar uma opinião devidamente esclarecida, nomeadamente se o meu voto vai concorrer para a eleição de alguém que eu não sei quem é, desconheço o seu pensamento e, talvez ainda mais significativo na decisão, o seu comportamento como cidadão.
Quando formos às urnas, deveremos sempre levar connosco um grau de conhecimento prudente e esclarecedor sobre por quem vamos votar. Os resultados finais devem encontrar-nos na melhor disposição democrática para os aceitar. “Podemos” ganhar ou “podemos” perder consoante o teor e as inclinações dos eleitores. Quer num caso, quer no outro, não digo que fiquemos totalmente felizes ou de luto. É necessário saber ganhar e saber perder. No primeiro caso, a satisfação não deve criar em nós uma consciência de tal modo libertina ou fátua, que desprezemos os nossos adversários, como se eles fossem idiotas ou seres desprezíveis. Proceder desta maneira nada tem a ver com o ideal democrático, que considera sempre que o respeito pelo parecer dos outros é absolutamente necessário.
E se saímos como derrotados, pensar que a nossa mensagem não foi a mais apropriada para aqueles momentos, ainda que tenhamos o direito de a ver respeitada pelas outras facções. E saber fazer uma reflexão séria sobre os seus conteúdos, não para os alterar de forma radical, mas para modificar alguns pormenores menos claros, torná-los mais acessíveis e atractivos à compreensão das pessoas, sem que, de jeito algum, se pretenda proceder demagogicamente.
Domingo próximo, ao fim da tarde, entre os eleitores, alguns sentir-se-ão eufóricos com os resultados, outros desiludidos e tristes, outros surpreendidos por esta ou aquela vitória ou derrota, enfim, numa sociedade democrática só pode haver um ponto comum de satisfação: quem quis manifestou a sua opinião em liberdade. E esta continua , quer para quem triunfou, quer para quem foi derrotado.
Penso, contudo, que devia haver cidadãos insatisfeitos e penosos com a sua consciência: os que, por comodismo, não se deram ao trabalho de ir às urnas. E se o nível de abstenção continuar elevado, quem dirige os destinos do país deve pensar seriamente na forma de inverter tal situação, não temendo que com mais cidadãos a votar, a sua posição de vencedor venha a ser alterada em futuras idas às urnas. Não activar uma busca séria de engrandecimento do sistema democrático, só demonstra que tais dirigentes não primam pelo amor e respeito pela liberdade.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva