Causou comoção na generalidade das pessoas a surdez do tribunal e do hospital de Liverpool perante o pedido dos pais do pequenino Alfie de que deixassem que ele pudesse ser tratado noutro lugar que estava disponível para o manter ligado ao ventilador e estudar mais em profundidade o caso.
Tom, o jovem pai, católico, que promoveu o baptismo do filho, foi recebido duas vezes pelo Papa Francisco que pediu ao Hospital Bambino Jesú, dependente da Santa Sé, que recebesse a criança. A Directora pôs-se a caminho, mas os médicos de Liverpool não deixaram, apesar de ter sido concedida a nacionalidade italiana ao pequenino Alfie e de haver mesmo um avião devidamente equipado para o transportar para Roma.
Desligado do ventilador, Alfie superou durante 4 dias as dificuldades derivadas de não ter a ajuda do ventilador. Mas Tom, no dia 26 de Abril, quando a morte se avizinhava, teve um longo diálogo com os médicos e responsáveis do Hospital. Ao sair, leu um comunicado agradecendo os apoios recebidos de todo o mundo e pedindo a todos que «regressassem às suas vidas de todos os dias».
Estes jovens pais são um exemplo de amor e capacidade de luta pelo seu pequenino. Longe de se quererem libertar dele, atingido por doença degenerativa fatal, fizeram tudo para poderem tê-lo mais tempo, podendo olhá-lo e beijá-lo, e dando-lhe o carinho que é a maior crítica ao vazio de sentimentos de muitas pessoas de hoje, nesta Europa dita civilizada.
Gostaríamos, já agora, de esclarecer alguns conceitos que retomamos da revista «Alfa Omega» de 3 de Maio:
1.- Perante doenças incuráveis, devemos sempre procurar os melhores cuidados, fugindo, quer da eutanásia, quer do encarniçamento terapêutico. O Catecismo da Igreja Católica define eutanásia como «uma acção ou uma omissão que, de per si ou na intenção, provoca a morte para suprimir a dor». Esta medida é homicídio e moralmente inaceitável.
2.- Todavia, pode ser legítima a interrupção de tratamentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionados aos resultados. Ao fazer isso, não se pretende provocar a morte. Aceita-se que não se pode impedir que ela aconteça.
3.- Segundo a Declaração sobre a eutanásia da Congregação para a Doutrina da Fé, é lícito, quer «recorrer, com o consentimento do doente, aos meios possibilitados pela medicina mais avançada», como «interromper a aplicação de tais meios, quando os resultados defraudam a esperança posta neles». Por outro lado, é sempre lícito contentar-se com os meios normais que a medicina pode oferecer, sem procurar outras medidas.
5.- Ainda segundo a mesma Declaração sobre a eutanásia, os critérios para decidir se uma medida médica ou um tratamento são desproporcionados, incluem o tipo de terapia, o grau de dificuldade e o risco que comporta, os gastos necessários e as possibilidades de aplicação com resultado.
6.- Diz ainda que, perante a iminência de uma morte inevitável, «é lícito em consciência tomar a decisão de renunciar a tratamentos que procuram unicamente um prolongamento precário e penoso da existência».
Retirar um ventilador entra no conjunto de meios, nos casos em que não há cura e mesmo que a morte não seja iminente. Não é algo intrinsecamente mau, embora se devam estudar cuidadosamente as circunstâncias . Isto afirma-o o bispo de Jerez, Espanha, ele que é também médico. Continua: «nestes casos, ao retirar o ventilador, o paciente morre por causa da sua doença, e não pela decisão em si de retirar o ventilador».
7.- Uma decisão de tal gravidade deve ser tomada pelo paciente, se estiver em condições de o poder fazer, ou então pelos responsáveis legais, tendo também em conta o parecer de médicos verdadeiramente competentes.
8.- Em qualquer caso, ao interromper um tratamento, não se deve interromper a administração de cuidados básicos de alimentação e hidratação, mesmo que a morte seja considerada iminente.
No caso em apreço, todavia, havia uma alternativa que não deixaram experimentar e que poderia fazer toda a diferença. Foi pena não permitirem a alternativa.
Autor: Carlos Nuno Vaz
A propósito da morte de Alfie Evans
DM
12 maio 2018