Pois bem, há um determinado episódio da vida bracarense relacionado com aquele espaço a que ambicionavam dar nobreza e requinte retirando-lhe a feira o qual, porventura, muitos desconhecerão. Tendo começado com o esboço dessa intervenção exposto na montra de uma loja de ferragens, que por ali existia, nele constando um belo e amplo jardim arborizado com uns artísticos candeeiros, bancos harmoniosos, um monumental fontenário ao centro e, no topo norte, um majestoso edifício onde seria instalado o Palácio da Justiça da cidade.
Aconteceu, porém, que essa planta não só foi rejeitada por muitos bracarenses, como também por uns quantos feirantes indignados. Ao ponto de irem para a porta do referido estabelecimento insultar o lojista, chegando mesmo a apedrejar-lhe a vitrina aos gritos: “a feira daqui não sai!”. Não lhe restando outra alternativa que não fosse a de retirar de lá o projeto.
Até que, uns anos mais tarde – pós-revolução – com a mudança dos tempos e das vontades, a requalificação do largo iria fazer-se, o que encheu de expectativa muitos bracarenses. É que, finalmente, alguém iria ter o arrojo de enterrar os carros, até aí, estacionados à superfície. Só que para elevar – ainda mais – essa ousadia, no solo que fora parque de viaturas, fez nascer algo de novo, com variados equipamentos, deixando a todos incrédulos.
Mas, a fim de contrariar opiniões – em ato inaugural – houve um espetáculo de luz e cor de fazer encher o olho ao eleitor. Estava consumada uma arquitetura comparável àquela a que o mestre Siza Vieira se referiu, há dias, dizendo que “por ser nova impressiona e, às vezes, até irrita”. E muitos se irritaram!
Ora, ao olhar para o mobiliário, desse aventureirismo urbanístico, o que vi de onde me sentei? A falta de manutenção em toda aquela tralha, com os bancos e caixotes (que ostentam algumas árvores), sem pintura ou envernizamento há largos anos. Até as próprias espécies arbóreas encaixotadas, coitaditas…! Pelo menos a julgar pela que, recentemente, foi cortada e cujo tronco lá ficou. Enquanto as demais foram crescendo em plano inclinado, sobretudo uma, de certo porte, a pender para os bancos, o que é desolador.
E que dizer do “tal canal”, sem pingo d’água até ao desprotegido tanque? Ou das metálicas rodelas no solo, projetados como repuxos, o que seria banho pela certa? Assim como os dois pedregulhos (sem arte rupestre), que deixam indiferente quem por eles passe. Já a luminária, quer das árvores ou rasteira, outrora predisposta para minimizar aquela aberração, essa, está completamente inoperante. Mas mais: os candeeiros (quais esteios sem ramada), uns a tombar e outros partidos, os únicos que, especialmente no inverno, à noite, atenuam a desoladora escuridão.
Depois, para além de não conseguir ver, dali, a entrada para a rua do Carmo, por ter diante dos olhos um bloco de cimento, em ângulo reto, também me senti impedido de enxergar a igreja, o convento do Pópulo e o Marechal, graças à monstruosidade ali presente. Sucedendo o mesmo com o “comboio”, dos comes e bebes, a dorna e o “tapume” de lojinhas (qual “comércio dos pequenitos”) tirando-me a vista até à entrada do Lar Conde de Agrolongo, o que se torna simplesmente desolador.
Apesar de elevada a Praça da “Desolação”, aquela que poderia ter sido uma de entre as melhores da Europa, o que se esperava eram candidatos à Autarquia decididos a dar-lhe a dignidade que merece.
Autor: Narciso Mendes