twitter

A política cega

A cegueira, em política, conduz inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo, ao barranco; quer dizer, todo o político que, apenas, se guie por si próprio, ignorando pura e simplesmente o que dele pensam e dizem, é a curto prazo um político falhado e um homem vencido; porque, ser cego, em política, pior do que não ver é não querer ver.

Penso que o político sagaz e bem-sucedido mais do que deixar-se guiar pela sua cabeça, sabe ouvir o que de si pensam e dizem os outros, mormente naquilo que constitui crítica construtiva, velada ou aberta, sobre a sua atuação; é que a solidão, enquanto dogmática de ideias e princípios, na vida política como na vida social ou privada, resulta sempre de um exagerado desprezo ou desprimor pelo que os outros dizem e pensam; e como se a nossa verdade fosse a única verdade, universal e possível.

Pois bem, há por aí certos políticos (?) que, por ingenuidade ou cegueira (sem dúvida, mais por esta que por aquela, pois políticos ingénuos creio que não há), estão com um pé ou a gâmbia toda à beira do abismo (barranco); que eles já não são capazes de pensar com a sua própria cabeça, de ouvir uma crítica, de aceitar uma opinião; sem dúvida, eles são fieis intérpretes da história do rei que vai nu.

E, então, como a política modifica os homens! Por um lado, cria-lhes ilusões e devaneios, mais próprios da adolescência (da vida) e capazes de os trazer nas nuvens e inchados como a rã da fábula que ansiava ser boi e, por outro lado, desvirtua-os naquilo que de mais são, natural e genuíno ainda possam ser; porque o pulsar e sentir do povo donde proveem já pouco ou nada lhes dizem ou motiva.

Depois, vítimas fáceis são de um narcisismo sem narciso que sempre se vangloriam de si próprios no espelho da autoafirmação, da autossuficiência e do trogloditismo mental; e, como na política partidária sempre funciona a psicologia de tribo, eles são piores do que macacos, de galho em galho, guinchando trivialidades e exibindo fanfarronices.

E os bandos que se formam obedecem criteriosa, disciplinada e cegamente a motivações pavlovianas, agindo em cadeia e por reflexos condicionados de um chefe, grupo ou ideologia que lideram os comportamentos coletivos; e esta forma de agir, em termos comuns, designa-se por fazer a cabeça ao indivíduo que é preciso pôr, custe o que custar, do nosso lado e incondicionalmente; tal e qual como, se triste é ser cego, mais triste ainda é não querer ver.

Ora se o amigo leitor é político e enfiou o barrete, ainda está a tempo de arrepiar caminho, mudar de comportamento e, como tal, fugir ao barranco; sobretudo, de olhar mais para a realidade das coisas e da vida que à sua volta se desenrola e é, sem dúvida, a única e autêntica verdade.

E, como lá diz o ditado, quem te avisa teu amigo é; ou mais concretamente põe-te a pau que, para o chefe só tens verdadeiro interesse enquanto representares um bom punhado de votos nas urnas.

O que caso é para praguejarmos:

- Porra, vai cá uma nortada!

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

DM

3 janeiro 2018