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A pior das cegueiras

Diz o povo que o “pior cego é aquele que não quer ver”. E estamos em crer que o povo tem total razão.

A sabedoria popular bem se pode aplicar a muitas situações, mas esta semana, o dito popular aplicava-se integralmente à nossa imprensa desportiva. O basquetebolista norte americano Kobe Bryant, foi vítima de um acidente fatídico de helicóptero, conjuntamente com outras pessoas, incluindo a sua filha. Esta notícia chocou o mundo inteiro.

Todos os quadrantes desportivos rapidamente fizeram homenagens, tributos, porque Kobe, era um desportista fenomenal, uma referência mundial, muito para além do que é a modalidade. Kobe pertence a uma elite de atletas de referência, que independentemente da modalidade que praticam, são pontos charneira do que é ser desportista.

O grau de treino, de paixão, de entrega, de determinação e dos valores que estes atletas representam, são referenciais impossíveis de esquecer e de não aproveitar para as novas gerações. Era um competidor, com uma enorme criatividade e eficácia, muito acima da média. Um enorme ícone do Desporto. Não reconhecer este exemplo e não o valorizar, pode significar duas coisas: ignorância ou incompetência.

Em todos os países, os jornais fizeram das suas referências editoriais pequenas/grandes homenagens, a essa figura ímpar, extraordinária, marcante, do desporto mundial. E em Portugal? As capas dos jornais desportivos diários não saíram da sua mentalidade curta e do padrão perpetuante… os “três grandes”.

Percebemos que há um medo de um editorial fora do que são os três grandes. Percebemos que há uma alienação, limitativa e castradora, àquilo que se pode chamar “clubite jornalística”. Todos nós nos queixamos que não existe cultura desportiva no nosso País, mas os maiores culpados são: as políticas avulsas, sem rumo, e também esta mensagem bloqueadora dos Média, em não querer ver para além do futebol dos “três grandes”. E, ainda, mais lamentável, em não desempenharem o seu papel com isenção, ecletismo e valor jornalístico.

Para concretizar: o SC Braga venceu a final da Taça da Liga, e as notícias no dia seguinte destacaram primeiro, os piores motivos, como as reações do treinador do FC Porto, depois, as “interpretações dos gestos” do presidente do mesmo clube e, lá no fim… “O SC Braga venceu a Taça da Liga”.

O andebol nacional teve a melhor prestação de sempre em campeonatos internacionais. O mundo do andebol rendeu-se à nossa seleção, mas a nossa imprensa limitou-se a noticiar em “rodapé”, sem aprofundar, e nossa televisão pública passou ao lado do evento, esquecendo o interesse público, e os jornais desportivos não fizeram verdadeiramente o que lhes competia: informar, reforçar, valorizar. A nossa imprensa (pseudo) desportiva não sai do seu comodismo, do caminho mais fácil e manipulador da sua “clubite”.

Enquanto os sucessivos governos não encararem o Desporto como uma área social de (enorme) interesse estratégico, com horizonte e objetivos integrados, não adiantam os programas governativos ou medidas de investimento.

Dizia-me um amigo: “para se poder ver mais além é preciso ligar os máximos”, mas muitos dos “influenciadores” e responsáveis editoriais não conseguem passar dos “mínimos”.

Não conseguem sair desta cómoda bancada tricolor, com tochas manchadas de vermelho, azul e verde, a tapar a visão, criando uma cegueira doentia, maníaca e redutora das massas.


Autor: Carlos Dias
DM

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31 janeiro 2020