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A Palavra de Deus une os crentes e torna-os um só povo

Iniciamos hoje a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e teremos no dia 26, o «Domingo da Palavra de Deus» instituído pelo Papa Francisco com o 'Motu Proprio' «Aperuit illis», que quer dizer: «Abriu-lhes» o entendimento para captarem como o anunciado pelas Sagradas Escrituras se cumpriu totalmente na Morte e Ressurreição de Jesus. Francisco afirma que «a relação entre o Ressuscitado, a comunidade dos crentes e a Sagrada Escritura é extremamente vital para a nossa identidade. Sem o Senhor que nos introduz é impossível compreender em profundidade a Sagrada Escritura, como também é verdade o contrário: sem a Sagrada Escritura é impossível decifrar os acontecimentos da missão de Jesus e da sua Igreja no mundo». Isto porque «a Bíblia é o livro do povo do Senhor que, escutando-a, passa da dispersão à unidade. A Palavra de Deus une os crentes e torna-os um só povo». «A Grande responsabilidade de explicar e permitir que todos compreendam a Sagrada Escritura é essencialmente dos Pastores, que devem sentir a forte exigência de a tornar acessível à comunidade. Para tal, é absolutamente indispensável que os pastores meditem e rezem sobre o texto sagrado, pois só assim serão capazes de falar com o coração e chegar aos corações das pessoas que escutam e que, captando o essencial, deixam que frutifique nas suas vidas».E acrescenta: «Não nos cansemos nunca de dedicar tempo e oração à Sagrada Escritura para que seja acolhida 'não como palavra de homens, mas como ela é verdadeiramente: Palavra de Deus». De Sante Babolin, tomo estas afirmações: «Nós, sacerdotes, esquecemos que é o Senhor quem nutre a sua Igreja e se serve de nós para levarmos a sua Palavra e não a nossa». Por isso, o sacerdote deve ser o primeiro a sentir e viver o grande mistério que é chamado indignamente a presidir. «Com os meus gestos e o meu modo de fazer, posso anular aquilo que disse com a boca. O contrário não acontece. É preciso trabalhar muito sobre isto, porque é a palavra de Deus que muda as pessoas, mas, para a tornar viva, é necessário ter realizado uma entrega plena a Jesus, entrega absoluta, sem reservas». Quando nos interrogamos por que é hoje tão difícil transmitir a fé, devemos ter em conta que «não se ensina a nadar sem nadar. Por isso, quando ofereces a Palavra, deves ter a plena consciência de que és um intermediário, um medianeiro; e um bom intermediário não cria impedimentos ao Senhor que fala. O intermediário é humilde, acolhe e ama, não levanta barreiras, não censura, não carrega com pesos quem tem necessidade de ser consolado. O intermediário é aberto ao Espírito, sabe que o Senhor misericordioso o confiou a um anjo custódio e à comunhão com os irmãos: a sua vida é espiritual. Não basta dizer que se tem fé para comunicar a fé». As pessoas não procuram discursos culturais, mas uma palavra para a vida, acrescenta o jesuíta e mosaicista padre Rupnik. «O discurso religioso a que fomos habituados nestes decénios vai-se exaurindo, porque o que faz é nutrir uma necessidade psíquica de religiosidade, que não tem nada que ver com a fé da Igreja e não faz confluir nas pessoas a novidade da vida nova. Não nutre a vida. Por isso é que se pode ir à igreja e viver com a mentalidade de quem é totalmente nutrido pelas coisas que o mundo oferece, sem discernimento». A fé cristã é um novo modo de existir: viver a relação e a comunhão. A comunhão é o significado da nossa existência. Mas, durante séculos, marginalizamos a comunhão e fundamo-nos sobre um Deus impessoal. Ora Deus é uma existência comunial. Não estamos num binómio 'homem-Deus', mas 'Deus pai - homem filho». Somos filhos no Filho de Deus. E isto muda tudo, porque, se somos filhos, quer dizer que fomos gerados numa relação, numa comunhão que é eterna. «Ser cristãos não significa filosofar sobre Deus, mas chamá-lO Papá». Ou seja, crer em Jesus significa viver, não para se afirmar a si mesmo, mas para se dar a si mesmo. Não podemos cair no 'individuo-centrismo' da oferta religiosa que pede o meu empenho para me dar em troca a salvação. A fé da Igreja é uma manifestação de humanidade que vive dando-se. Só o amor permanece. Tudo o resto passa. A Igreja será forte se fizer ver uma humanidade que não procura defender-se, mas que se dá. As pessoas procuram pessoas que se amam, querem sentir e compreender que é possível amar-se. Um visitador apostólico ao Vietnam queria saber se, depois de toda a perseguição, ainda havia cristãos. Não tendo encontrado quem dissesse que os conhecia com essa nomenclatura, um nativo disse-lhe que talvez tivesse compreendido o que queria saber, mas que a esses, eles não lhes chamavam nem cristãos nem católicos. Havia, sim, um povo num vale entre as montanhas cujos membros eram conhecidos como «aqueles que se amam». Era também assim que os primeiros cristãos cativavam os judeus e pagãos a aderirem à vida nova trazida por Jesus Cristo. (Act 2, 46-47)
Autor: Carlos Nuno Vaz
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18 janeiro 2020