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A outra crise

1.A crise que nos afeta não se restringe aos planos sanitário e económico, como estou persuadido de que erradamente se pensa. Há uma outra, de muito graves consequências: a dos princípios e dos valores. Princípios e valores sobre que deve assentar uma sociedade bem organizada têm sido postos de lado. Têm sido ridicularizados. Têm sido, irresponsavelmente, combatidos. É imperioso, porém, ter a coragem de os recuperar. Neste, como noutros casos, voltar atrás é adiantar caminho. 2.Há que ter a coragem – e de o demonstrar com atos – de dizer a todos que ninguém deve fazer aos outros o que não quer que lhe façam a si. Há que ter a coragem de defender valores como a honestidade, a verdade, a justiça, a não-violência, o respeito pela palavra dada, a estabilidade familiar, a tolerância, o amor ao trabalho, a satisfação dos compromissos assumidos. Há que educar as pessoas no sentido do respeito por si e pelos outros. Há que pôr de lado o facilitismo e formar as pessoas na consciência dos seus direitos e também dos seus deveres. 3.Há que proceder ao casamento entre a política e a ética. Um casamento estável e não apenas de conveniência. Há que legislar tendo sempre em vista o bem comum. Há que procurar que tais leis sejam respeitadas por todos, a começar pelos de cima. Há que saber resistir ao poder dos lobis e não fazer leis à medida dos interesses de alguns. 4.Há que educar para a verdadeira liberdade, exercida sempre com o sentido de responsabilidade. Liberdade sem responsabilidade tem como consequência a libertinagem e esta dá origem à anarquia e ao caos. Há que consciencializar as pessoas dos justos limites da liberdade. 5.Há que educar no sentido do altruísmo e da prática da solidariedade. Mostrar que os outros também existem. São sujeito de deveres mas também de direitos. Têm as suas opiniões e aspirações. Têm a sua sensibilidade e a sua dignidade. Têm o direito de usufruir dos bens da criação e de partilhar da riqueza que deve ser equitativamente distribuída por todos e não concentrada nas mãos de meia dúzia. Também têm direito a que, dentro do prazo combinado, lhes seja pago o que lhes é devido. 6.Há que ter a coragem de fazer regressar o respeito pela disciplina aos vários sectores da sociedade. De prestigiar a autoridade. De procurar que o poder seja exercido como serviço aos outros. Que mandar seja pôr os bens da comunidade ao serviço da mesma e não uma oportunidade para os colocar ao serviço de interesses pessoais ou de grupo. 7.Há que formar bons educadores e dar-lhes meios para exercerem a sua missão. Respeitar aos pais o direito/dever de educarem os filhos e de poderem escolher o modelo de ensino a ministrar-lhes. Fazer com que Família e Escola caminhem de mãos dadas. Criar condições para que a Escola prepare devidamente para a vida em sociedade e para o exercício consciente, competente e digno de uma profissão. Há que prestar atenção ao correto uso dos Meios de Comunicação Social e ter a coragem de eliminar do seu seio todo o lixo que ali não deveria nunca ter entrado. Há que defender o direito de propriedade privada, mas como direito limitado e que não deve ser exercido de forma egoísta e irresponsável. Há que reconhecer o mérito de diplomados competentes e proporcionar-lhes dignas condições de trabalho. 8.Porque se colocaram em crise princípios e valores que sempre deveriam ser defendidos e respeitados é que assistimos a um conjunto de situações que enumero muito sumariamente: A violência doméstica. O desrespeito pelos idosos. A indisciplina. A corrupção, o compadrio, a promoção da incompetência. A impunidade. O sumiço de lucros a que se deveria acorrer para solucionar problemas em situações de crise. A falta de mão de obra especializada. O abuso de seres humanos.
Autor: Silva Araújo
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18 junho 2020