Dentro de dias, em Davo, não se vai falar de outra coisa: o papel das empresas enquanto parte interessada, na resolução dos principais desafios, desde logo a sustentabilidade ambiental, mercê da crise climática. O mais significativo é que a base de trabalho dos participantes estará centrada no Manifesto 2020 baseado no original de Davos de 1973 que estabeleceu o conceito de Stakeholder’s, enquanto parte responsável por estar ao serviço da sociedade e não apenas dos acionistas. A tributação justa, a tolerância zero à corrupção, a remuneração de executivos e o respeito pelos direitos humanos serão a pedra angular de uma visão onde se fala do capitalismo das partes interessadas e da sua responsabilidade, não apenas em maximizar lucros, mas usar as suas capacidades e recursos em cooperação com governos e sociedade civil para abordar as principais questões desta década”. As palavras pertencem a Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Económico Mundial, que apresentará o manifesto 2020 sob o lema “Cohesive and sustainable world”. Esta visão tem um significado profundo, dado a dimensão e protagonismo de Davos. As partes (pública e privada) vão sentar-se à mesa com uma agenda recheada em seis áreas principais de atividade: Ecologia, Economia, Sociedade, Indústria, Tecnologia e Geopolítica.
Esta deriva positiva em torno da Sustentabilidade é ainda pouco clara relativamente às dimensões que cada um (país) assumirá, mas importa clarificar que ao desenhar o caminho, estaremos a dar um importante passo para que regional e localmente, se definam novos protagonistas, capazes de galvanizar o entendimento global que instituições como a ISO (The International Organization for Standardization) ) acompanham, através de modelos de gestão inovadores com é o caso recente da Norma 37123 vocacionada para definir o nível de resiliência das cidades. É o terceiro documento produzido por aquela organização depois de um primeiro (37120) vocacionado para os aspetos relacionados com a Qualidade de vida e de um segundo (37122) associado às cidades inteligentes.
As orientações de Davos e o instrumento ISO são suficientes para percebermos que ninguém estará descalço nesta demanda pela Sustentabilidade; falta é saber se as apostas serão verdadeiramente transversais à sociedade e território, ou serão parciais para, como sempre, evitar atitudes disruptivas que ponham em causa o protagonismo político de momento. Já tive aqui a oportunidade de apresentar as cinco dimensões da Sustentabilidade (económico-financeira; social, ambiental, infraestrutural e tecnológica) que defendo como essenciais se quisermos de forma efetiva, fazer algo mais do que enunciar intenções e planos. É por isso saudável ver a Universidade do Minho a envolver-se conceptualmente, na definição dos parâmetros de atuação, sendo que se espera mais do que uma visão holística – imperiosa e necessária – uma vocação para o pragmatismo e exequibilidade das propostas.
Uma outra instituição (EFQM- European Foundation for Quality Management) reforça igualmente esta vocação das partes interessadas, com uma revisão dos seus critérios e impacto, baseados nos Direitos Humanos e Cidadania e nos Objetivos de desenvolvimento das Nações Unidas, ao exigir a criação de valor de forma sustentável para as partes interessadas, uma preocupação adicional sobre o ecossistema, um estilo de liderança mais colaborativo e uma cultura baseada na cocriação com os outros. É exatamente neste ponto, que se corre o risco de assistir de forma repetida, à sede de protagonismo, á liderança ilusória e a uma vocação para estruturar hierarquicamente o que deve ser transversal. No caso de Braga, o sucessivo envolvimento da Universidade nas diferentes dimensões da governação local (anunciou-se há dias o seu papel na elaboração de um Plano para a Sustentabilidade), é não só desejável como crítica porque se espera dela uma visão simbiótica na hora do protagonismo, assumindo-se como um instrumento necessariamente orgânico, ou seja, funcional, geracional e viável. Se a ISO e o EFQM podem e devem ajudar as partes interessadas, nada será possível sem duas das premissas a toda a vontade que possa existir: a cultura do comportamento responsável e a aplicação do conhecimento variável.
DESTAQUE
No caso de Braga, o sucessivo envolvimento da Universidade nas diferentes dimensões da governação local é não só desejável como crítica porque se espera dela uma visão simbiótica na hora do protagonismo, assumindo-se como um instrumento necessariamente orgânico, ou seja, funcional, geracional e viável.
Autor: Paulo Sousa