Por diversas vezes aflorei, neste espaço de opinião, que o nosso país se encontra na cauda dos países com menor participação da atividade física e desportiva. E se isso acontece de uma forma geral na população portuguesa, então no género feminino os números são devastadores! Para além disso as mulheres estão sub-representadas não só na sua prática como na liderança desportiva! Os cargos de direção e de liderança técnica são amplamente dominados pelos homens estando as mulheres sub-representadas em diversos níveis de apreciação.
O cenário de desigualdade é descrito num documento, elaborado por um grupo de trabalho, criado pelo governo, para redigir propostas que ajudem a melhorar esta situação até 2029. Tudo isto tem a ver com base em estatísticas oficiais na prática desportiva federada, as mulheres correspondem a somente um terço dos praticantes filiados nas federações com modalidades olímpicas e 37% das raparigas e mulheres entre os 15 e os 24 anos “nunca” ou “raramente” fazem exercício físico, subindo drasticamente essa percentagem para 79% entre os 25 e os 40 anos, indicando a acrescida dificuldade de conciliar a vida pessoal e profissional com o desporto.
Das dez federações desportivas com maior financiamento público e nas dez com maior número de praticantes, nenhuma tem uma presidente mulher. As treinadoras com título profissional válido são apenas 15% do total, baixando ainda mais o valor quanto mais elevada for a qualificação do total de técnicos em Portugal com o grau IV de treinador, apenas 2,2% são mulheres. Leila Marques Mota, vice-presidente do Comité Paralímpico de Portugal, designada como coordenadora do grupo de trabalho, sublinha que “ainda há um longo caminho a fazer”, no campo da igualdade de género no desporto, havendo um “fosso muito grande entre homens e mulheres”, sendo preciso “acelerar o ritmo de mudança”, sob pena de continuarmos a “marcar passo face ao que é feito na europa e no mundo.
Nesse documento vislumbra-se um conjunto de recomendações e incentivos a uma maior participação das mulheres nos vários organismos, “para a construção da igualdade também na dimensão do desporto”. São diversas as recomendações que constam do relatório final do grupo de trabalho para as políticas em matéria de igualdade no desporto, cuja criação o Governo aprovou no passado mês de agosto de 2022.
“Nós vamos fazendo o nosso caminho. Hoje há muito mais mulheres a praticar as várias modalidades do desporto e há várias federações que investem muito no desporto feminino”, afirmou Leila Marques Mota.
No entanto face a esta constatação, “as mulheres são hoje muitas a praticar desporto, mas poucas ou nenhumas nas lideranças das várias associações e federações desportivas”. Para além disso as mulheres a partir dos 25 anos deixam a prática desportiva, pela ausência de conciliação da vida familiar com a vida profissional e pessoal e ainda por questões de maternidade.
Por tal facto é imperioso que a conciliação da vida familiar com a profissional seja uma realidade, também no mundo do desporto, para que tenhamos maior igualdade de género, no desporto deste país!
Autor: Luís Covas
A mulher no desporto
DM
17 fevereiro 2023