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A mudança de paradigma religioso do homem europeu

Por influxo do pensamento positivista do iluminismo do séc. XVIII, que foi exponenciado pelo niilismo do século XIX e difundido pelo existencialismo do séc. XX, o homem europeu tem vindo a substituir a religião cristã pelas novas “religiões” do futuro, quais sejam: liberalismo, individualismo, cientismo, sexismo, moda, etc. Em consequência desta mudança de paradigma, tem diminuído na Europa o número de crentes cristãos e aumentado o número de ateus, agnósticos e indiferentes. E quando o espírito sagrado do cristianismo entra em contraciclo com o espírito profano da sociedade contemporânea – cada vez mais regido pelo poder científico-técnico (biotecnologia, inteligência artificial, liberalismo económico-financeiro, etc.) e por filosofias de cariz egotista (moral libertária, hedonismo estético-mediático, epicurismo tardio, etc.) –, compreende-se que o homem europeu não acredite no que não é corpóreo, palpável ou compreensível à luz das leis materiais, como é o caso do mistério da Santíssima Trindade. Porém, este mistério religioso não se rege por uma regra científica de formulação categórica e irrefutável, como um fenómeno químico, por exemplo, porque o sagrado só pela virtude da fé pode ser intuído, assimilado e vivido. A essência deste mistério é espiritual, nem podia ser de outra natureza, e manifesta-se ao homem segundo evidências insofismáveis, quer para a ciência médica, no caso dos milagres, quer para a Igreja, no caso das aparições por si reconhecidas. Foi esse Espírito que inspirou a predição dos profetas do Antigo Testamento e pessoas como a Virgem Maria, S. José, Jesus Cristo, os apóstolos, Paulo de Tarso, os mártires do cristianismo nascente, Santo Agostinho, São Francisco de Assis, etc. Deste modo, o Espírito Santo é a força de Deus no meio dos homens, e manifesta-se de modo radical e iniludível sempre que é necessário reconduzir a humanidade no sentido da redenção e da salvação eternas. Se a Virgem Maria – adolescente que não foi desonrada por qualquer homem, ao contrário do que aventam certos historiadores modernos – incarnou no seu seio, por obra e graça do Espírito Santo, a humanidade de Jesus Cristo, também Isabel e Zacarias conceberam João Batista segundo o mesmo desígnio sobrenatural. E logo que o Precursor batizou Jesus Cristo, também o Filho do homem ficou cheio do Espírito Santo, força divina necessária à superação de uma cultura que se reproduzia de modo inalterado – e ainda se reproduz – segundo uma práxis milenar e ritual. Sendo um judeu no meio de judeus, o normal é que também reproduzisse o quadro mental e religioso de uma das mais antigas civilizações do mundo. Mas não, foi enviado para instituir na terra uma nova religião, mas uma religião criada por Deus, e não pelo homem, para que a mesma fosse fundada no Espírito e não na carne. E nessa obra Deus Pai esteve com Deus Filho através da mediação transcendente do Espírito Santo. Alguém conhece edifício religioso mais belo e perfeito quanto o do cristianismo? A mesma força salvífica e redentora manifestou-se no Pentecostes, que permitiu aos apóstolos falar as línguas do Médio Oriente, para que pudessem espalhar a Boa Nova, e em Paulo de Tarso (São Paulo), então um fariseu ortodoxo, frequentador da sinagoga e leitor do Talmude, fautor da primeira grande, luminosa e penetrante interpretação do Evangelho – uma mensagem transgressora da doutrina judaica: «Saulo, Saulo, porque me persegues?» Depois desta belíssima alvorada cristã, também o Espírito Santo se manifestou em homens como Agostinho de Hipona (Santo Agostinho), um temível e mundano filósofo que vencia todos os debates de dialética, mas que foi vencido pelas Epístolas de São Paulo, depois que uma criança (?) lhas entregou e lhe disse: «Toma e lê!» Após a leitura das cartas paulinas, abandonou a disputatio academica e entregou-se à exegese bíblica, porque era necessário combater as numerosas heresias que começaram a aparecer no seu tempo: pelagianismo, donatismo, maniqueísmo… E que dizer de São Francisco de Assis que, sendo jovem, rico e amável abandonou o século para fazer uma imitatio Christi no monte Alverne? Não fosse o élan providencial do Espírito Santo e jamais abandonaria uma vida de prazer e frivolidade para aceitar em si o sofrimento de Cristo na cruz e para sentir no coração o fogo do amor de Deus. Porquê? Porque a sociedade do seu tempo, Igreja católica incluída, tinha abandonado os caminhos da santidade. Posto isto, cumpre-me dizer que é doce nos meus lábios a invocação «Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!»
Autor: Fernando Pinheiro
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4 janeiro 2022