1. Vem de longe a montagem do presépio por ocasião do Natal. Pretende-se, com isso, recordar as circunstâncias em que nasceu Jesus. Maria envolveu-o em panos e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria (Lucas 2, 8).
2. Montam-se presépios nas igrejas e fora delas. Em casas particulares e em espaços públicos.
Há-os constituídos por imagens estáticas, mais ou menos artísticas, como há presépios movimentados. Há os chamados presépios ao vivo, para o que contribuiu S. Francisco de Assis, na noite de 24 para 25 de dezembro de 1223, em Gréccio.
Alguns presépios reduzem as imagens ao essencial - Jesus, Maria, José; outros, exibem uma enorme variedade de figuras, correndo o risco de distrairem do fundamental as pessoas que os apreciam.
Existem presépios construídos ao sabor popular, como os produzidos pela imaginação de barristas de Barcelos, em que sobressaíram Rosa e Júlia Ramalho e Júlia Côta. De reconhecido valor artístico são célebres os de Machado de Castro, de António Ferreira, de Diogo Macedo.
Ultimamente tem ganho notoriedade o presépío de Priscos, nos arredores de Braga, que pretende dar uma ideia do que era a vida do Povo de Deus quando nasceu Jesus. Garfe, na Póvoa de Lanhoso, tem-se convertido na aldeia dos presépios.
3. Mais importante do que estes é o presépio que deve ser montado no coração de cada um de nós, onde nem sempre há lugar para os outros. Isto não apenas em 24/25 de dezembro, mas todos os dias.
Recorda-nos o presépio não ter havido um lugar condigno para o nascimento de Jesus.
Hoje acontece de não haver lugar para Jesus, presente num Idoso que, só por comodismo, se arruma num lar de Terceira Idade. Não haver lugar para Jesus, presente num doente incurável, apressando-lhe a morte através da eutanásia. Não haver lugar para novos Meninos-Jesus, tendo-se originado um preocupante inverno demográfico.
Em contrapartida há lugar para um ou mais animais de estimação, a que se prestam todos os cuidados e para cujo conforto se não olha a despesas. Pode não haver tempo para visitar o Idoso que se depositou no Lar, mas arranja-se tempo, quer chova quer faça sol, para passear o cão, às vezes coberto por uma mantinha, para o proteger da chuva e do frio.
4. Penso ser importante refletir na mensagem que do presépio irradia: a prática do acolhimento, da simplicidade, da humildade;
o reconhecimento da dignidade humana, também na pessoa dos mais fragilizados;
a rejeição do fausto e do esbanjamento;
o uso dos bens materiais de forma solidária e não egoísta, repartindo com quem não possui o necessário para poder viver com dignidade;
a criação de condições dignas de habitabilidade, pondo termo ao escândalo dos sem-abrigo;
o reconhecimento de que o valor das pessoas está no que são e não no que têm;
a prática do amor fraterno, que é o grande mandamento de Jesus (João 13, 33-35).
5. Mais do que arranjar espaço para dispor um conjunto de imagens produzidas pelos homens é importante arranjar um lugar digno para os homens, que são imagem de Deus.
Um dos problemas com que muita gente se debate é o da habitação. A falta de casas e o volume das rendas levam muitos jovens a adiarem o casamento ou, tendo casado, a permanecerem em casa dos pais não sendo eles mesmos pais.
Há que promover a construção de habitações dignas e a preços acessíveis e criar condições para que os casais possam ter filhos.
Permanece muito oportuna a (re)leiturada Carta Apostólica «Admirabile sigum» (Sinal admirável), em que o Papa Francisco convida os católicos a imitarem a “simplicidade” do presépio para viverem o Natal.
E um Santo Natal para todos.
Autor: Silva Araújo
A mensagem do presépio

DM
22 dezembro 2022