1. Braga está a celebrar as festas do S. João. Festas com nome religioso mas onde predomina o profano.
Porque a melhor forma de homenagear os santos consiste em recordar aquilo em que foram exemplo e imitar as suas virtudes, oportuna me parece refletir sobre a lição que S. João Batista dá aos homens de hoje.
2. Como todos, João Batista veio ao mundo desempenhar uma missão muito concreta: preparar os homens para receberem Jesus Cristo. Foi o que, diríamos em linguagem de hoje, um grande catequista (Marcos 1, 2-7; Lucas 3, 1-14; João, 1-18-30).
Consciente da sua tarefa cumpriu-a escrupulosamente, amando os homens mas detestando os erros, não se deixando assustar pelas pressões do ambiente ou pelas ameaças dos poderosos.
Pregou com a vida e com a palavra. Não apenas com a palavra. Morreu pelos valores em que acreditava.
3. Começou a pregar quando Tibério era imperador romano; Pôncio Pilatos, governador da Judeia; Herodes Antipas, tetrarca da Galileia. Declarou-se contra a ambição das riquezas e o abuso do poder. Defendeu a justiça e o amor ao próximo. Insistiu na necessidade de cada um cumprir o seu dever.
Vítima do desassombro com que pregava e do seu indefetível amor à Verdade – a Verdade sempre incomodou muita gente – foi preso pelo tetrarca Herodes que, a pedido de Herodíades, mulher de seu irmão com quem vivia maritalmente, ordenou que a sua cabeça fosse apresentada numa bandeja (Marcos 6, 17-29; João 3, 22-36).
4. Vivesse hoje S. João Batista e o tema da sua mensagem seria, por certo, o mesmo. Denunciaria o desrespeito de quantos mudam de companhia como quem troca de camisa e de quantos se vangloriam de comportamentos aberrantes de que, se imperasse o bom senso, se deveriam envergonhar. Seria intransigente na defesa da justiça, do amor ao próximo, do cumprimento dos próprios deveres.
5. Defenderia a justiça. Justiça que supõe o respeito pelo outro na sua dignidade e nos seus direitos. Justiça que supõe a fidelidade aos compromissos assumidos. Justiça que supõe o cumprimento dos deveres e não apenas a reivindicação dos direitos. Justiça a que todos têm direito e se não compadece com abusos e atropelos de qualquer espécie.
Justiça que não admite qualquer forma de exploração, nem que venha dos que ontem se diziam – ou eram mesmo – explorados. Justiça que se não coaduna com ditaduras da maioria. Justiça que atua no momento oportuno. Justiça que não tolera a existências de leis feitas à medida de certos interesses e conveniências. Justiça que não distingue pobres de ricos nem discrimina militantes do partido relativamente a outros cidadãos.
Pretende-se uma sociedade mais justa e mais fraterna.
Como pode ser justa uma sociedade onde existem gritantes injustiças sociais? Como pode ser justa uma sociedade que faz vista grossa face à chaga da corrupção? Como pode ser justa uma sociedade onde os homens não valem pelo que são mas pelas influências que movem?
Como pode ser justa uma sociedade onde predominam a partidarite, o nepotismo e o compadrio? Como pode ser justa uma sociedade que permite a existência de pessoas com reformas de miséria enquanto outras usufruem de reformas milionárias?
6. Justiça e amor. Duas grandes aspirações de muitos dos nossos concidadãos. Amor que é a antítese do ódio. Amor que se não compagina com a pregação e a prática da luta de classes. Amor que supõe a vitória sobre todos os egoísmos e implica, acima de tudo, um grande espírito de serviço e de entrega ao bem comum.
Amor que há de ser uma constante preocupação de buscar melhores condições de vida sobretudo para os que se encontrem em maiores dificuldades. Amor que é servir o outro e não servir-se dele; que é viver para o outro e não à custa dele; que se preocupa mais em dar do que em receber. Amor que não suporta a coisificação do outro.
Como pode haver amor numa sociedade em que há listas de espera nos hospitais, em que são frequentes diversas formas de violência, em que se pega num idoso ou num doente como quem carrega um saco de batatas, em que há pessoas marginalizadas, em que existem idosos abandonados ou simplesmente depositados no que chamam lares?
Autor: Silva Araújo
A mensagem de S. João Batista
DM
21 junho 2018