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A máscara do défice

Senão vejamos: Jerónimo de Sousa, líder do PCP, critica esta queda do défice à custa de redução da despesa pública, em vez da redução da dívida que obstaculiza, assim, o investimento e consome recursos; e Mariana Mortágua do BE defende que os 1,661 mil milhões que resultam da pressão orçamental deviam ser aplicados na educação, na saúde, nos transportes, na redução de impostos, no descongelamento das carreiras da Função Pública.

Assim sendo, o Partido Socialista (PS) afasta-se sub-repticiamente dos parceiros de coligação parlamentar e tenta ganhar terreno no centro-direita o que lhe será favorável em próximos atos eleitorais, perspetivando, deste modo, um futuro entendimento com o Partido Popular (PP) como parceiro numa solução governativa o que já não é inédito na cena política nacional; até porque o espaço eleitoral à esquerda cada vez se augura mais improvável como preconizam os ventos de mudança que varrem politicamente os países da União Europeia.

Mas voltemos à realidade que é o que fundamentalmente mais interessa; e, então, sendo o défice, em linguagem que todos entendem, uma situação financeira em que as despesas excedem as receitas, neste particular da sua queda acentuada, fácil é de entender que houve uma diminuição das despesas, seguida de um aumento de receitas; todavia, continuamos com uma dívida de 130% o que é considerado preocupante e desastroso. 

Então, que armas usou o Governo para diminuir as despesas e aumentar as receitas? As armas do costume que já outros governos utilizaram e assentam numa inconsistente engenharia financeira: perdões fiscais para pagamento de dívidas, retenção nos investimentos, cativações nos pagamentos, rigor orçamental com prejuízo no desenvolvimento da economia e obviamente o inevitável aumento de impostos; e, como não podia deixar de ser, a aplicação de medidas de austeridade. 

Pois bem, um défice baixo não é necessariamente sinónimo de êxito económico-financeiro e bem-estar da população; e, até, porque continuamos cada vez mais na cauda da Europa o que, na prática significa uma estagnação da economia e do desenvolvimento, excetuando, apenas, um aumento considerável nas exportações de têxteis e de calçado, um Produto Interno Bruto (PIB) per capita que não sai da zona vermelha e o agravamento das condições de vida com o consequente aumento da pobreza; e se o desemprego diminui é à custa do fenómeno emigratório, sobretudo da juventude mais capaz, habilitada e criativa em busca do primeiro emprego ou de melhores condições de vida. 

Depois, o brutal endividamento público e privado, a derrocada da situação bancária, a baixa produtividade e a venda de empresas públicas a estrangeiros são fatores de retrocesso e estagnação; e somente na linguagem do Governo e do PS é que a economia nacional recuperou e a austeridade é já passado.

Ademais, a saúde, a educação, a segurança social, os ordenados e pensões estão melhores? Não, claro que não; e só no dia em que a máscara do défice cair o povo acordará para a realidade e verdade e verá que, afinal, o rei vai mesmo nu que é, no fundo, a matriz da política que temos. 

O que nos leva a gritar: 

– Abre os olhos, ó Zé, antes que fiques ceguinho de todo. 

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

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1 março 2017