Nas últimas eleições realizadas no nosso país, houve uma família política – o Partido Socialista – que teve a maioria absoluta. Sem dúvida que este tipo de votação facilita muito, a quem tem de governar, a formação do elenco ministerial e também fornece uma espécie de tranquilidade agradável, em relação às acções que executam, porque terá sempre a aprovação dos seus deputados na Assembleia da República.
No entanto, tais condições não devem diminuir o sentido de responsabilidade de quem recebeu do povo essa maioria. Pelo contrário, se lhe proporcionou tantas possibilidades de governar em paz e sem grandes forças opositoras, só deverá ser entendido como uma manifestação de confiança na competência e seriedade dos votantes nas pessoas que elegeu. E nunca como uma espécie de sofá confortável onde as decisões se tomam sem a preocupação de ser mal sucedido ou rejeitado.
Outro aspecto a ter em conta é o comportamento interno dos membros do governo, que devem agir como um todo ordenado e disciplinado e nunca como uma espécie de aula onde as diversas decisões se tomam de acordo com a inspiração dos ministros, ou do comportamento mais ou menos sugestivo e inspirado de cada um. E para não falar da incapacidade de aprendizagem de um dos alunos dessa classe, que parece não poder nem saber como dar resposta às questões que as matérias dos seus programas lhe exigem.
Não há muito tempo, todo o país ficou sobressaltado com a atitude de um dos membros do actual governo, que tomou uma iniciativa legislativa por sua conta, sendo de seguida totalmente desautorizado pelo primeiro ministro. No dia seguinte, em conferência de imprensa, o culpado desta atitude reconheceu a sua precipitação e o seu erro, como faz um adolescente que se mostra verdadeiramente arrependido dum gesto que tomou indevidamente. O chefe do governo manteve-o no seu cargo, quando muita gente esperava que ele apresentasse a sua demissão ou fosse demitido por quem de direito.
A comunicação social, que vive às vezes das fraquezas ou das oportunidades que lhe proporciona alguma situação chocante, passado o estremeção causado pelo assunto referido, durante bastantes dias, apresentou as deficiências do Serviço Nacional de Saúde, com a falta de médicos, o encerramento de urgências, etc. A ministra visada lá ia aparecendo, dizendo algumas palavras que nada resolviam. Encontrando-me, uma vez, numa esplanada na hora do telejornal, havia comentários de todo o género. A sua figura não era bem tratada, antes pelo contrário. Alguém mais compadecido, observava: “De duas, uma: ou aguenta todos estes ataques, ou vai-se embora..., Até tenho pena dela!”
Mas, felizmente – ou infelizmente para as dificuldades continuadas e submersas do SNS –, vieram os fogos. Os telejornais aquecem-nos e horrorizam-nos com tantas labaredas por esse país fora, que, todos os anos, por estas alturas, se converte numa espécie de braseira incontrolável, mau grado o esforço titânico dos bombeiros e de tantos civis, que com eles colaboram, às vezes com o próprio risco da sua vida e dos seus bens.
A maioria absoluta continua. Não se sabe se, perante tantas situações de desconforto, ela é eficaz. Como ouvi comentar: A “maioria” tem uma solene vantagem. Não sei se faz alguma coisa, mas, pelo menos, lá se mantém, evitando uma queda do governo e eleições antecipadas. Em época de férias, seria uma verdadeira chumbada!”
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva