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A má informação

Ontem, a informação servia para informar; hoje, a informação é para consumir. Ontem, o leitor, adulto e cidadão, procurava compreender, ter um ponto de vista; hoje, o que há é um zappeurinfantil, que absorve com bulimia, passando de um facto a outro sem nunca parar.

Ontem, tínhamos confiança no conhecimento e na compreensão; hoje, o excesso torna as pessoas desconfiadas e mal informadas. Ontem, pensávamos; hoje, drogamo-nos. O diagnóstico sobre o consumo dosmedia, aqui bastante sintetizado, é de um sociólogo francês, Denis Muzet, autor de um livro sobre “a má informação”.

O passado, como com frequência sucede, é objecto de uma certa idealização, mas, quanto ao presente, a descrição é globalmente adequada, sendo certo que o presente a que o livro alude tem uma dúzia de anos.

O olhar que se encontra em La mal info. Enquête sur des consommateurs de media(Éditions de L’Aube, 2006) encontra-se voltado, tal como o título indica, para o modo como as pessoas consomem os media. Como elas usam metáforas alimentares para descrever esse consumo, Denis Muzet, também fundador do Institut Médiascopie, propõe algo que tanto serve para lidar com a comida quanto com a informação. Perante uma epidemia de obesidade informativa, o remédio é “exercício, dieta e um pouco de musculação”.

“Mediático-sensíveis”, é nisso que as pessoas se transformaram, observa o autor de La mal info. Os mediasão a sua alimentação e a sua referência – quando o livro foi publicado a mesa estava posta para servir não ainda as redes sociais, mas apenas os jornais, a rádio e a televisão, o que, todavia, pouco muda.

“Insaciável, até se tornar bulímico, o consumidor de mediaestá sempre a petiscar. Fá-lo em todo o lado e a todo o tempo, de modo muito apressado e simples. Por não querer desequilibrar o seu regime alimentar, o sobreconsumo mediático provoca-lhe uma forma de obesidade”.

O freguês dos mediajulga que o objectivo principal da informação não é ajudar a compreender o mundo, a fornecer-lhe sentido, a estabelecer ligações entre as coisas ou a confrontar opiniões, constata Denis Muzet, assinalando que, agora, a informação é, por si só, suficiente. Sublinha o sociólogo que o consumidor de informação não quer compreender alguma coisa sobre o rumo dos acontecimentos; ele quer apenas acumular dados informativos.

O que ele faz é comer depressa, discutir pouco, confortar-se socialmente sobre este ou aquele ponto, debicando apenas alguns factos ou ideias gerais sem se comprometer em demasia. Para Denis Muzet, “o que o consumidor de mediaingurgita compulsivamente é apenas um alimento superficial”.

É por isso que, quando questionado sobre o que se passou verdadeiramente nesta ou naquela matéria, o porquê, o como, quem são os intervenientes, o contexto, as consequências que podem advir, sobre, em síntese, os contornos globais, ele tem dificuldade em responder.

O livro sobre os consumidores de mediainclui um capítulo que pretende ajudar a evitar a má informação. A primeira recomendação é para que se faça um certo jejum mediático, libertador de um tempo que pode ser reinvestido num consumo diferente e mais equilibrado. Ou seja, “em alimentos mais consistentes e revigorantes”.

Denis Muzet também se dirige aos patrões dos mediae aos jornalistas, pedindo-lhes, entre outras coisas, menos informação em bruto, como a que se encontra em todo o lado, e mais informações trabalhadas, mais ângulos de visão, mais olhares distanciados, mais tratamento aprofundado.

No Dia Mundial das Comunicações Sociais, que hoje se assinala, há remédios e pedidos merecedores de atenção.


Autor: Eduardo Jorge Madureira Lopes
DM

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13 maio 2018