Não sou nem nunca fui grande cinéfilo, mas a confusão do espetáculo dos óscares foi digna da prosápia com que os excelentíssimos apresentadores e a maioria dos seguidores da dita "sétima arte" têm vivido – nessa ocasião até se refinaram – em tratar o chefe máximo do país que os acolhe… até porque muitos deles não passam de mercenários, onde a tal "arte" tem mais bolor do que qualidade e a presunção nem precisa de maquilhagem para luzir… nas trevas da lua!
Quem queria tosquiar foi tosquiado – diz o nosso povo com razão! De facto, com tantas atribuições e tributos culturais, dar asneira num acontecimento daqueles, manifesta que algo vai mal no reino da fantasia. Ali foi posto a manifesto que a lua se eclipsou e, por breves momentos, ofuscou os discursos inflamados contra o poder legitimamente eleito, atirando para a lama quem atiçou as rezes na arena e fez com que se possa pensar – muito mais do que seria desejável – que tudo corre bem até quando se descobre a tramóia…
= Deixem que, por momentos, se possa transladar aquele figurino todo ou em parte para a nossa praça – ou será antes saguão? – e com alguma vulgaridade poderemos recorrer a uns quantos argumentos de que uns tantos/as vingam (isto é, vencem) enquanto têm cobertura, mas um dia pode acontecer um resvalo menos previsto e tudo se poderá pôr a nu… A luz deixará de brilhar, pois já não reflete o sol que a suportava!
Na verdade há situações e episódios que, na sua complexidade e subtileza, nos obrigam a tentar descobrir quem manobra quem ou como se faz e chega a algum posto a que que custo e com armas. Sinto que os acontecimentos mais recentes do nosso país económico e social, político e emocional tem vindo a ser tratado com alguma leviandade, senão no conteúdo ao menos na forma. Por onde andava o povo agora tão animado como não se via desde há dezassete anos? As agruras foram enterradas com tanta velocidade, que não se lhes vê já o rasto? Bastarão umas doses de (pretenso) otimismo para contagiar o resto do povo? A difusão dos afetos e abraços pagam as contas e as dívidas? Como se faz para que se vença a miséria e não se volte, brevemente, à casa de partida como (acontecia) no jogo do monopólio?
= À luz da lua – ou "sob a luz do luar" – parece ser um bom título para o desempenho de muitos dos artistas que vemos em atuação… Não me refiro à semelhança com o filme oscarizado, mas à ideia de que à luz da lua poderemos ir vendo as sombras, mas quando o sol aparecer, de verdade, não ficaremos admirados com os fantasmas que nos tentavam impingir?
Uma coisa é ser utópico, outra bem distinta é ser lunático. Tanto quanto é percetível este segundo estado tem vindo a derramar-se numa forma crescente e bem paga… neste nosso imenso Portugal em penumbra de esquecimento dalgumas malfeitorias, agora vendidas como regalias… numa cultura que tenta distrair com um rol de episódios em intriga…
Como é lamentável que certas vozes se tenham calado. Será que foram compradas ou se venderam? Como vivemos num nivelamento de menor denominador comum, quando precisamos de potenciar muito mais as nossas capacidades e possibilidades. A quem interessa enganar com uma tal paz podre e bolorenta?
= Muito honesta e sinceramente, sinto que, neste momento, estou a ser enganado e que alguém mente – ou será que é só in-verdade? – e consegue ludibriar tudo e todos. Não temos – como país e até sociedade – riqueza capaz de fazermos a vida de opulência que vemos tantos/as a ostentar… ou, então, há quem consiga enganar, habilidosamente, os outros… e em especial o fisco. Não é possível continuar este filme por muito mais tempo… Um dia, a lua poderá deixar de brilhar!
Autor: A. Sílvio Couto