twitter

A lógica da moderação nas atitudes humanas

A essência da natureza humana exige uma postura equilibrada. Quaisquer excessos nas atitudes do homem constituem desvios do normal humano. Na verdade, o ser humano, pelo uso desordenado da sua liberdade, tende a entrar na esfera dos descomedimentos comportamentais.

A lei da moderação deve acompanhar-nos sempre no nosso dia a dia. O autodomínio é uma força ôntica que carateriza a natureza do homem, nunca podendo ser encarada como um incómodo ou uma sobrecarga indesejável. Exige, por isso, um autocontrolo racional que evite as excentricidades para que, muitas vezes, somos solicitados. Viver com moderação significa seguir um equilíbrio consentâneo com a dignidade humana.

A lógica aristotélica assim o recomenda desde a antiguidade, quando afirma que “no meio termo é que está a virtude”. Devemos evitar os extremos em tudo, para podermos viver seguramente. É o caso da alimentação, do vestuário, das diversões e até do trabalho. O excesso tem sempre consequências desagradáveis e até funestas. Tudo o que excede os limites da sobriedade cria uma base de instabilidade fisiológica e psíquica.

Aprender a ser moderado é a essência do bom senso e da verdadeira filosofia de vida. No entanto, o homem, por ser inteligente e livre, descobre processos e aperfeiçoa técnicas e métodos evasivos que atacam a moderação e o equilíbrio psicossomático. No caso do abuso de bebidas alcoólicas, as suas vítimas não se apercebem da figura que fazem quando caminham pela rua, nem das consequências anti-higiénicas provocadas pelos despejos que deixam nas esquinas das ruas ou nas casas de banho públicas e que desengoliram por causa da excessiva quantidade de bebidas brancas (e não só) que o estômago já não suporta mais.

A mesma imodéstia se nota nos campos do vestuário e da capacidade de comunicar. Muitas pessoas, escravas da moda, não sabem como andar vestidas, gastando economias que, tantas vezes, vão faltar em áreas essenciais para o conforto da vida em casa. Os loquazes e os tagarelas, nas suas conversas diárias, também gastam muitas palavras desnecessárias e dispensáveis, já para não falar no linguajar de calão e afins que consomem energias e criam hábitos pouco recomendáveis.

O maior exemplo de equilíbrio e de moderação é-nos dado pela própria natureza constitutiva do cosmos em que estamos integrados. O universo atua em equilíbrio e simetria no seu todo. E quando, em certas zonas, acontecem anomalias, elas não afetam a harmonia global. Há justamente o necessário de cada coisa para que o conjunto trabalhe em uníssono e com sucesso, seguindo as leis que lhe estão inerentes.

Só quando a ação do homem intervém ou alguns dos seres planetários entram em forte degradação é que surgem os desequilíbrios que provocam as catástrofes, mais ou menos, intensas e graves. É que, tal como nas nossas vidas, quando as circunstâncias são propícias a um extremo desequilibrador, o resultado é o caos.

Regressando à postura humana e continuando a compará-la a fenómenos da Natureza, podemos estabelecer certas analogias. Assim como uma grande intensidade de chuva provoca cheias, uma ingestão desmedida e continuada de álcool destrói o cérebro e o fígado, antecipando prematuramente a morte.

Do mesmo modo que um período continuado de sol pode provocar uma seca exagerada, também os prazeres físicos, em excesso, podem originar uma depressão profunda. Comer ou beber demais, divertir-se ou jogar em excesso, resmungar continuamente ou até trabalhar desalmadamente são fenómenos que, mais cedo ou mais tarde, se vão tornar muito perniciosos.

A moderação é uma das normas supremas de ordem moral. Sobriedade é saúde, excesso é doença.


Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

DM

18 janeiro 2018