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A liberdade de informar e a liberdade de ser informado

A Liberdade de Informação não é só a liberdade de informar mas é fundamentalmente a liberdade de ser informado”. A declaração da autoria de Sophia de Mello Breyner Andresen, datada de pouco depois de 25 de Abril de 1974, revela-se, ainda hoje, uma oportuna chamada de atenção que vale a pena convocar, e não apenas por hoje ser o Dia Mundial das Comunicações Sociais.

Não por acaso, referindo os resultados de um estudo da OCDE, aliás muito citados, que indicam que um em cada dois alunos portugueses com 15 anos de idade não sabe distinguir um facto de uma opinião, o provedor do leitor do Público, José Manuel Barata-Feyo, observava, na coluna de ontem, que não são apenas os jovens que se confundem. Para o demonstrar, exemplificava como o mau jornalismo produz má opinião, elucidando que, “quando o jornalista informa mal, é inútil esperar que o comentador, baseando-se no que leu e ouviu, comente bem”. O texto do provedor do leitor terminava com uma advertência: “Nunca é por demais repetir que cada jornalista, em cada uma e todas as notícias que assina, é sempre e só o fiel depositário da confiança que o cidadão deposita na Imprensa e no seu jornal. Trair essa confiança é trair a opinião pública e trair o jornalismo”.

O diagnóstico feito por Sophia de Mello Breyner Andresen há mais de quarenta anos não deixa de conservar bastante pertinência: “A Informação que a Imprensa fornece ao público – salvo as excepções pontuais que sempre existem – ora é sectária, ora é incompleta, deficiente, mal articulada. Problemas gravíssimos não têm sido expostos nem com a clareza nem com a continuidade equacionada e articulada que eram necessárias”. Décadas depois, abundantes exemplos continuam a demonstrá-lo.

Para Sophia de Mello Breyner Andresen, “problemas urgentes, como o problema da saúde, o problema do ambiente, os problemas do trabalho, ora são expostos de forma ocasional e fragmentária ora de forma partidária ou especulativa e raramente a Imprensa oferece aos seus leitores uma Informação onde exista uma exposição completa e equacionada dos problemas e dos factos”. A consequência de ontem não difere da consequência de hoje: a situação, como era dito e pode ser repetido, muito tem contribuído para o clima de confusão em que temos vivido.

A declaração de Sophia de Mello Breyner Andresen lembrava um problema ainda não resolvido em 1975: a identificação dos “trabalhadores da Informação que antes do 25 de Abril funcionavam como informadores da PIDE”, uma situação então de óbvia gravidade uma vez que a presença de tais elementos nos meios de informação era ameaçadora da liberdade. É que, explicava a poeta, “a Liberdade de Imprensa não depende apenas das leis que regem a Imprensa mas também da idoneidade moral e da fidelidade à ética profissional de todos aqueles que na Imprensa trabalham”.

Neste Dia Mundial das Comunicações Sociais, não há um problema com jornalistas que tivessem sido informadores da PIDE, mas há com os que, demasiadas vezes, estão enredados noutras ligações perigosas. É, de resto, curioso que, ainda para mais no momento em que a Assembleia da República trata das vigarices associadas ao caso BES (o que tem constituído uma oportunidade para certos devedores fazerem figura de parvos), continue sem se saber quem são os jornalistas que beneficiaram do “saco azul do BES”, uma dúvida, suscitada pelo Expresso, que, há anos, cauciona a generalização de uma suspeita quanto à “idoneidade moral” e à “fidelidade à ética profissional” da classe jornalística. A liberdade de ser informado não beneficia com este género de desconfianças.


Autor: Eduardo Jorge Madureira Lopes
DM

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16 maio 2021