Dizem-nos que a inflação está a abrandar e as estatísticas assim o afirmam. Mas é tão lenta que os afogados não têm tempo de deitar o nariz de fora! Que o digam as donas de casa. As couves para o caldo dos pobres está ao preço da sopa dos ricos! Dantes dizia-se, está a pão e caldo; isto era um índice de pobreza e até um estigma social. Agora teria que se dizer, vive bem, imagine-se que se alimenta de caldo e pão. A fruta passou a ser, não um complemento alimentar, mas uma estravagância de lauta mesa onde só os ricos têm assento. E a culpa é dos especuladores que fizeram da guerra da Ucrânia um pretexto para a subida geral de preços. A estratégia é simples: se os combustíveis subirem dez por cento, então eu subo 15%. E o retalhista sobe 20% e o povo também sobe em despesa cerca de 30, 40 ou mais por cento E o estado, que é quem mais lucra com tudo isto, arrecada somas enormes fechando os olhos a esta economia especulativa e diz farisaicamente, nós não mexemos nas taxas. Pois não, só que a base sobre que incidem as taxas é substancialmente maior, logo o lucro é de barriga cheia. E o povo aguenta. A especulação é um roubo sem perdão porque, parecendo que rouba por igual, deixa sem recursos os mais pobres e aos ricos pouca diferença fazem mais cem ou menos cem. Todos verificamos que os produtos até chegarem aos consumidores passam por uma cadeia intermediária que, de roda livre, e sem escrúpulo social, fazem o que quer; sabem que o estado também está na roda na beiçada e, como beneficiário direto que é, cala-se muito caladinho porque estes réditos servem para apresentar politicamente uma robustez económica que contabiliza simpatias e votos nas urnas. A inflação chega a todos os lados: aos jovens que ganham salários mínimos, aos casais que veem subir os descontos dos empréstimos, aos remediados que passaram a pobres e aos “simples” porque acreditam sucessivamente em quem os engana todas as vezes. Até acreditam, - santa fé - que a inflação está a abrandar, mesmo quando olham para a carteira e a veem mais vazia ou apenas sem cotão de tanto nela basculharem. Como é que o estado pode intervir nestes preços? 1º podem estabelecer preços tabelados para o cabaz de compras de primeira necessidade; 2º podem fiscalizar mais e intensamente os especuladores; 3º Se isto ainda não for suficiente que se faça distribuidor concorrencial. A Constituição não proíbe a concorrência estatal, proíbe o monopólio como meio de fazer e refazer os preços porque sem concorrência; subindo-os em flecha, como escada invertida, em vez de ser um elevador social é caminho infernal para o precipício da indigência. A dignidade deixa de existir quando as pessoas não contam. Completando o título ….. a ladrões de casa ninguém lhes fecha.
Autor: Paulo Fafe
“A ladrões de casa…
DM
20 fevereiro 2023