Estamos a viver uma época de egoísmo político-social e de inversão de valores como não há memória. Os poderosos assumem decisões de uma anormalidade gritante que nem ao mais inapto passa pela cabeça. Adotam medidas que afastam os competentes dos cargos de responsabilidade, com o fito de lá colocarem os seus apaniguados seguidores.
Para conseguirem os seus intentos usam os meios mais ardilosos que estiverem ao seu alcance, para que não lhes reste a mínima dúvida de que tudo será fielmente cumprido. O seu comportamento entra, muito facilmente, em total contradição. Proclamam, por um lado, a defesa da justiça e apoiam os atos de solidariedade, enquanto, no dia a dia, praticam o oposto.
O mesmo se passa com muitas dotações difundidas como “benesses”, mas que vão buscar ao erário público para acudir a necessidades coletivas (e particulares!), mas sabendo de antemão que vão receber um retorno compensatório, pelo menos de ordem política, para si, para os seus correligionários e para a ideologia que defendem.
Nem os donativos particulares, oferecidos com tanta generosidade para amenizar as consequências das catástrofes naturais, escapam a essa voraz delapidação e controlo sugador. Uma parte deles é muito mal aplicada, indo, muitas vezes, beneficiar quem não o merece, porque tais doações caem em mãos pouco escrupulosas que não têm pejo em distribuí-las, sem critérios éticos.
Nas povoações de Pedrógão Grande e suas vizinhas, vitimas dos incêndios do ano passado, ainda há famílias pobres, cuja única habitação permanece em ruínas, vivendo assim nelas ou em barracas em condições sub-humanas, enquanto outras há que, tendo casas como 2ª. Habitação e algumas das quais nem sequer foram atingidas pelo fogo, viram-nas total e bem recuperadas, mesmo que por meio de falsificação de documentos, segundo o afirmam os vizinhos e nós o soubemos pelos Meios de Comunicação Social.
A verdadeira solidariedade não se compadece com a viciação dos princípios éticos nem com a má administração dos donativos tão liberalmente oferecidos por muitas pessoas que sacrificaram o seu já exíguo mealheiro. A prática da solidariedade deve ser desinteresseira e desprendida.
As recompensas, que poderão surgir, não são dadas em troca de nada; são compensações morais por serviços prestados graciosamente. Só aqueles que administram com justiça e aqueles que dão com liberalidade possuem uma personalidade correta, vertical e devidamente sólida. A sua atitude de servir aqueles que mais precisam confere-lhes os maiores benefícios nos sentimentos de autorrealização.
A solidariedade é um imperativo ético, pois a única razão da existência do homem está na obrigação de praticar o bem, quer particular, quer público. Quem discriminar os outros, seja por que motivo for, assume uma postura antimoral, antissocial e anti-humana.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes