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Justas manifestações contra mina de urânio em Retortillo). Tiveram recentemente lugar, na velha cidade de Salamanca, concorridas reuniões de protesto luso-espanhol contra a exploração de uma mina de urânio a céu aberto, nas vizinhanças do município de Retortillo, na mesma província salmantina. Está demonstrado que os sub-produtos e as escorrências de minas como esta, constituem poluição que afecta o ar, os solos e as ribeiras locais. No caso, o rio Yeltes, que corre para o Huebra, ambos nascidos na cordilheira central de Espanha, a leste da Peña de Francia. E que entram no Douro por um profundíssimo barranco (entre as aldeias de Saucelle e de Hinojosa de Duero), logo a sul de Freixo de Espada-à-Cinta.
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Um homem telúrico…). Eu sou uma criatura muito telúrica. Cada qual é como é; e eu pertenço àquele grupo de pessoas que “sente” certos locais, especialmente os serranos e planálticos, como se eles fossem realmente “seres” (no fundo, são-no mesmo…). Percebo a sua grandeza, majestade, perenidade e imponência. Reconforto-me quando os volto a visitar, sempre iguais e sempre diferentes, por força das estações do ano ou porque “feridos” pela devastação humana. Porém, seres poderosos, aí continuam eles, testemunhos da grandeza da Obra de Deus, que a tacanhez das sociedades humanas ditas “desenvolvidas”, cada vez mais desrespeita e destrói sem necessidade. Regresso de os ver, com a confiança no Poder de Deus e a esperança de que, tal como aqueles montes, rios e planaltos são perenes, oxalá Deus se interesse por nós e permita que as nossas curtas vidas terrenas também se prolonguem com longas “sobrevidas” felizes, numa dimensão diferente e posterior. Nem vou falar aqui, da forma apaixonada como sinto a África sub-sahariana ou a América do sul (menos) . Mas dou também como bom exemplo as montanhas da Suíça e da Áustria; e o complexo mosaico que era a antiga Iugoslávia, que visitei 4 vezes. Quando esse “telurismo” se mistura com a ideia de “casa”, de “pátria”, a sensação de simbiose e de segurança é ainda maior. Estou aqui a falar de, p. ex., quando regresso por estrada desde França e passo os Pirinéus; entra-se na nossa Meseta e vê-se ao longe, à esquerda, o escuro massiço da serra de la Demanda; é o 1.º contacto com a vastidão e a brutalidade dos nossos montes e dos grandiosos planaltos da nossa Ibéria. O mesmo sinto lá para os lados da prov. de Cuenca; ou em Aragão; ou em Trás-os-Montes; ou nos distritos da Guarda ou Castelo Branco.
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Reminiscências do tempo em que explorei as provs. de Zamora e Salamanca). Houve uma fase da minha vida, há cerca de 15-18 anos, em que visitei várias vezes toda aquela região para lá da fronteira. De viagens anteriores, com o meu pai e família, ficara-me a certeza de que se tratava de vastas áreas em que a Natureza estava ainda intocada (bem diferente da regra em Portugal, país de incêndios, pedreiras e depois, de barragens e parques eólicos). Porque já então eu era ornitólogo amador e tinha adquirido muitos livros da especialidade e mapas topográficos, passei a ir lá com alguma frequência, sozinho ou acompanhado. Zamora e Salamanca são em Espanha o limite-noroeste das florestas mediterrânicas de sobro e azinho, que ocupam largas áreas, entremeadas de pastagens. E tão a norte como os arredores de Zamora, há ganadarias de touros bravos, mesmo ao lado das estradas secundárias pelas quais eu sempre andava. A variedade da passarada era e é, assombrosa. Falo também de inúmeras aves de rapina e de corujas e mochos. Perto de Valladolid, p. ex., encontrei certa vez uma árvore em que descansavam 4 ou 5 jovens falcões-peneireiros.
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Eça, Tormes, Ciudad Rodrigo, La Bouza e Escalhão). Breves notas. É por Salamanca que corre, para NW, o famoso rio Tormes, mencionado por Eça no seu “A cidade e as serras”. E é por exasperante engano que foi, para Alba de Tomes, toda a bagagem de Jacinto. Na casa da mãe do falecido dr. José Alfredo Marques (prof. liceal em Braga e cunhado do ex-ministro Miguel Macedo), no Escalhão, dormi eu duas vezes, há anos. Animadas eram as “jotas” duma festa nocturna a que os 2 fomos, em Aldea del Obispo. E no regresso, atropelámos um coelho (como ele previra): almoço para o dia seguinte… Azinhal imenso, e entremeado com fragas graníticas, é o de Alameda de Gardón, perto de Vilar Formoso (o dono é médico em Madrid). E os matos e sobreiros da bela descida de La Bouza para Portugal, perto do rio Águeda? E Fermoselle? E o suado lavrador –latifundiário de San Felices, que me foi apresentado pelo comerciante Corchete-Hernández, de Ciudad Rodrigo, meu conhecido do Porto? Foi na época do bem sucedido protesto contra o aterro nuclear de Aldeadávila de la Ribera…
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A raposa invisível de Retortillo). Uma vez, aproximava-me eu de Retortillo, vindo pela estreita “carretera” que antes passa pelas “dehesas” de Bogajo e Villavieja de Yeltes. Ao chegar a um alto que precede a ponte junto a umas pequenas termas, avistei , junto a uma pedra, uma raposa. Em 5 segundos, encostei o carro e ia fotografà-la. Já lá não estava. Fiquei ali 2 minutos a ver se a encontrava. Reapareceu a mais de 100 metros, a ir embora. Só deu para fotografar as moitas e as árvores…
Autor: Eduardo Tomás Alves