Desde logo porque o terrorismo tem facetas contraditórias, embora por terrorismo esteja institucionalizado o princípio de que só o é quando alguém atenta contra a segurança desse Estado:
– ser executado pelo poder instalado na hierarquia da organização do modelo do Estado contra os cidadãos que se lhe oponham, como por exemplo: através do poder legislativo persecutório; policial; censório; e muitas outras formas que o poder central tem de impor por via não democrática as suas pretensões quando não usa de forma enviesada a própria democracia para o fazer;
– ser executado por cidadãos contra o modelo e os resultados políticos da organização social do Estado de que fazem parte, como por exemplo: um Estado aonde a miséria generalizada prolifera é, com certeza, um Estado fértil na formatação de padrões de educação social de pessoas para atos de desespero de causa como o são a inexistência de condições essenciais à vida: emprego; habitação condigna; cuidados de saúde básicos; educação, condições de salubridade pública e de higiene; entre outros fatores que influem diretamente nas condições de estabilidade emocional da vida do cidadão comum.
O contrário é tido por prepotência do poder executivo num Estado de direito e democrático e por ditadura nos países aonde o exercício do poder não resulta de sufrágio eleitoral independentemente do processo eleitoral instalado.
No atual estádio histórico da organização política e social no mundo, assistimos a uma conjugação de fatores que motivam o descontentamento social cujo suporte estrutural é a instabilidade generalizada em que se vive.
A instabilidade tem sido, desde sempre, uma condicionante da própria vida, embora dessa própria circunstância resulte fator de expetativa de que não sabemos como lidaríamos individualmente, projetando essa componente para o aspeto social.
Sendo a instabilidade motivada em grande medida pelo desconhecido, ela é propulsor do motivo que gera a curiosidade em busca desse desconhecido de onde se extrapolam ilações porque só se pode concluir sobre aquilo que se conhece.
E mesmo assim subsistem dúvidas sobre se haveria estabilidade na diversidade comportamental da vida perante factos. Mesmo naquilo que concerne ao comportamento humano padronizado uma vez que a variável comportamental é indefinida. Quando muito, pode ser suposta em face de alinhamentos educativos transversais.
Mas, mesmo assim, a subjetividade da métrica sobrepõe-se à objetividade do facto. Variando essa objetividade consoante o facto esteja consumado, em execução ou em planeamento e de indivíduo para indivíduo porque não há dois indivíduos iguais. Quando muito haverá semelhanças em função dos padrões educativos resultantes da transição entre gerações e da necessidade funcional no tempo.
Ora, o medo tem na condição existencial um papel relevante para o equilíbrio dessa condição.
O medo tem sido o principal fator de domínio e de controlo civilizacional determinante na influência sobre a organização social em que há os que servem e os que são servidos, mas que se esbate consoante o desenvolvimento do discernimento mental vai evoluindo e se vai generalizando a todo o tecido social.
A vida tem vindo a alterar a sua relação com o medo, colocando em causa a pirâmide da organização social na qual há quem considere ser a reposição do medo uma condição impreterível para manter o equilíbrio social vigente, de forma a impedir a diluição das atuais elites, fazendo com que as castas sociais distintas desapareçam, dando lugar a uma nova organização cívica em moldes políticos diferentes.
Esta forma desapaixonada de abordar, em perspetiva, o medo que é o pilar central do equilíbrio mental individual e coletivo permite abordar o terror como consequência do medo que espoleta sensores de defesa pessoal em função de necessidades básicas do existir sobrevivendo em meio inóspito.
Autor: António Fernandes