Decorreu em Compostela, entre 5 e 8 de outubro, o VIII Congresso Mundial da Pastoral do Turismo, sob o tema Turismo e peregrinação: caminhos de esperança. A iniciativa foi organizada pela Arquidiocese de Santiago, com o Patrocínio da Santa Sé e a colaboração da Conferência Episcopal Espanhola. Contou com a presença de diversos oradores peritos em pastoral do turismo e também dos cardeais Juan José Omella e Leonardo Sandri. Ao afirmar como caminhos de esperança, quer o turismo quer a peregrinação, o título do Congresso aproxima estas duas realidades que, contudo, são algo diferentes, dado que a peregrinação é uma espécie de turismo em que as motivações são essencialmente religiosas.
Nesse congresso, o diretor nacional da Pastoral do Turismo, padre Miguel Neto, apresentou uma preleção sobre A proposta pastoral portuguesa, projeto em ação, em que falou da “possibilidade de cooperação com instituições da sociedade civil, que está a ser implementada no Algarve, com o objetivo de formar pessoas que, neste momento, já se encontram em contexto de formação no local de trabalho, abrindo diversas Igrejas da Vigararia de Tavira” (Agência Ecclesia, 29 de julho passado).
Um pouco antes, a 27 de setembro, tínhamos celebrado o Dia Mundial do Turismo, instituído pela respetiva Organização Mundial (OMT), uma decisão tomada em setembro de 1979, em Torremolinos (Espanha), com o objetivo de “aumentar a consciência sobre o papel do turismo na comunidade internacional e demonstrar como ele afeta os valores sociais, culturais, políticos e económicos em todo o mundo”.
O Papa Francisco publicou, para este dia, uma mensagem intitulada Ecoturismo, chave do desenvolvimento sustentável, cuja leitura se recomenda. Vale a pena também ler a nota publicada para o efeito da Obra Nacional da Pastoral do Turismo, onde se afirma que “o turismo permite o contacto e o convívio entre seres humanos de diferentes culturas, religiões, etnias e formas de viver e a aquisição de conhecimento do outro e do diferente, fatores que diminuem/eliminam a discriminação ou a rejeição do que nos é (ou era) estranho. Para além disso, é uma atividade altamente inclusiva, já que, criando muito emprego para pessoas com diferentes níveis de qualificação, permite que todos possam ser integrados no mercado de trabalho, desde os que não tiveram a possibilidade de ter estudado muito (mas que, através do treino se tornaram profissionais reconhecidos pela sua capacidade de bem estar), passando pelos académicos e investigadores de diferentes ciências sociais, ou engenharias tecnológicas mais especializadas (hoje, essenciais, por exemplo, na distribuição e comercialização online dos produtos turísticos e que têm, neste sector, uma possibilidade de desenvolvimento e afirmação). E não podemos esquecer que esta é uma indústria cujo produto é tão mais valorizado quanto melhor for a qualidade ambiental e a promoção do desenvolvimento social das populações que são visitadas, ou seja, quanto maior for o índice de sustentabilidade que promova” (Mensagem para o Dia Mundial do Turismo 2022).
Na referida mensagem, chama-se ao turismo “indústria da paz”, dado que “os agentes de turismo podem, no seu quotidiano, construir a Paz, trabalhando em rede, cooperando, tendo consciência de que podem aplicar medidas de uma mais justa repartição da riqueza e usando a tecnologia e o digital para construir a cooperação. Podem, também, agir junto dos refugiados (...), sendo autores decisivos na sua interação no mundo laboral e na sociedade, fazendo com que encontrem acolhimento e solidariedade”.
Turismo, turismo religioso e peregrinação têm muito em comum e evocam a deslocação humana, a quebra de rotinas, a possibilidade de descanso físico e intelectual, o equilíbrio emocional, a abertura à novidade, a descoberta dos outros e até do Outro. São tão importantes que moldam identidades, (re)constroem culturas e rasgam horizontes.
O turismo religioso e a peregrinação oferecem aos crentes a possibilidade de encontros (consigo próprio, com o grupo que se desloca, com outros povos e com a natureza) e de descobertas (paisagísticas, históricas, arqueológicas, gastronómicas, etc.) que afirmam a identidade de um povo; que questionam e refazem a nossa própria identidade; e que aproximam os homens uns dos outros e até de Deus.
Autor: P. João Alberto Correia
“A indústria da paz”

DM
10 outubro 2022