Uma das maiores incógnitas para a duração desta legislatura será o comportamento do Presidente da República.
Marcelo Rebelo de Sousa ao afirmar, logo no dia da posse do governo, que não mudará de atitude, deu precisamente a melhor confirmação que poderá mesmo mudar de atitude, como se comprovou quando Jesus Cristo desceu à terra pela segunda vez!
A defunta geringonça deve muito do seu período de vida a Marcelo Rebelo de Sousa que muitas vezes tomou partido pelo governo, suportando-o, defendendo-o, menosprezando os argumentos da oposição e violando o seu papel de árbitro da vida portuguesa.
A desejada cooperação institucional não é afetada se a estabilidade política for, em épocas de normalidade, colocada apenas na mão dos portugueses e das vicissitudes entre governo e oposição, de nada valendo a postura à época dos partidos da geringonça que, num governo com maioria absoluta e em pleno período de bancarrota, pediam eleições dia sim, dia não.
Nunca o Presidente da República deveria ter pendido tão fortemente para um dos lados políticos do país, precisamente quando o partido que perdeu as eleições é que governou e tendo a geringonça sido escondida aos portugueses em campanha eleitoral.
Nunca se ouviu Marcelo contra as cativações, a ausência de investimento público, a grande carga fiscal, a ineficácia dos serviços públicos, o fraco crescimento económico, mas já o ouvimos afirmar que iria ter saudades da composição do último Parlamento!
Convém recordar que a geringonça, assinada nas catacumbas do Parlamento, só teve lugar devido a um dos maiores erros de Cavaco Silva na sua vida política, que foi o facto de ter marcado eleições legislativas numa data em que estava constitucionalmente impedido de ulteriormente dissolver a Assembleia da República.
No entanto quer o consistente Cavaco Silva, quer Jorge Sampaio, foram os únicos Presidentes da República que não usaram oportunisticamente o seus primeiros mandatos para” passarem “para os campos da outra família política e poderem ser reeleitos com maiorias superiores.
Aliás, que dizer da consistência do atual Presidente quando, em viagem oficial a CUBA reverenciou, numa visita pessoal, um dos ditadores sanguinários do SEC.XX e XXI?
O sonho de Marcelo Rebelo de Sousa é ser eleito com maior percentagem de votos do que Mário Soares e é muito capaz de o conseguir, dada a sua grande habilidade politicam confirmada, por exemplo, quando utilizou o espaço de comentador televisivo para ser o mais forte candidato a Presidente, apesar da sua pouco conseguida actividade política anterior.
Ao PS pouco mais resta fazer do que fez Cavaco Silva aquando da reeleição de Mário Soares: não apresentar um candidato ou, em alternativa, apresentar às eleições um qualquer ¨coitado ¨socialista que a seguir desaparece numa névoa em qualquer embaixada ou noutro lugar do mesmo tipo.
A família política da qual Marcelo Rebelo de Sousa é oriundo – e que o elegeu- não tem nenhuma garantia com ele, o que é grave porque o Chefe do Estado é eleito e não adquire o lugar por sucessão.
Não sei quem foi que escreveu ou afirmou que Marcelo é um catavento político, mas de facto foi a descrição politicamente mais acertada que alguma vez se fez de alguém.
Autor: Joaquim Barbosa