Portugal registou uma quebra muito significativa nos indicadores da prática desportiva, agravando de forma considerável a posição perante os restantes países europeus. A pandemia parou competições, afetando, substancialmente, e mais do que qualquer outra, a vertente da formação.
O número de jovens desportistas federados caiu para muito menos de metade. A incerteza é porventura uma certeza no tocante à recuperação e regresso desses atletas para a prática desportiva. Os números apresentados pelo Comité Olímpico de Portugal são ao mesmo tempo elucidativos e preocupantes. No futebol e futsal, a quebra no número de atletas federados foi superior a 75%, relativamente à época passada (interrompida em março de 2020), baixando, no futebol, de 132 835 para 33 922, e no futsal de 26 843 para 5 549.
No andebol, verificou-se uma diminuição de jovens inscritos de cerca de 54%, de 13 553 para 6 240, sendo de salientar o nosso histórico ABC, que de 400 atletas passou para menos de 100.
O basquetebol «perdeu» aproximadamente 10 000 jovens praticantes. No voleibol estão registados 27 156, face aos 49 980 da época passada. No hóquei em patins a quebra foi de 50%, atualmente com 2 875, comparativamente com os 5 764 de 2019/20.
A agravar este cenário temos o problema dos pequenos clubes, que perderam mais de metade dos jovens dos escalões de formação e das «Escolinhas», o que tem colocado em causa a sua sobrevivência.
Reconhecendo o dramatismo dos números, ainda mais preocupante, na minha modesta opinião, é a dúvida que impera nas modalidades não profissionais, pois a atenção e a prioridade dada ao futebol em Portugal é (gravemente) açambarcadora, sendo preocupante a evidente ausência de um plano de medidas de apoio, tanto a nível nacional como local, e não só para estas modalidades, como para os pequenos clubes que desempenham um papel fundamental na prática de desporto. Apoio nos clubes, sobretudo nos pequenos, para que invistam em profissionais qualificados e em instalações adequadas à respetiva prática.
Portugal é dos países na Europa com menores taxas de atividade física e mais crianças obesas. Uma aposta forte na promoção do exercício físico implica melhoria significativa na saúde pública, e permitiria poupar muito dinheiro, ou seja, tem de ser considerado como um investimento e nunca como um custo. Os decisores políticos parecem pouco empenhados nestas temáticas, sendo sintomático o desinvestimento na educação física nas escolas e nos clubes. No caso dos últimos, são eles muitas vezes os primeiros a esquecer a responsabilidade social que têm. Quando há que cortar, corta-se o mais fácil.
É tempo de se criar e pôr em prática um plano estratégico nacional para a prática do desporto, e tempo, portanto, para uma liderança que pense além do óbvio e imediato.
Autor: João Gomes
A importância da prática desportiva
DM
20 maio 2021