Este título fui colhê-lo ao Doutor Anselmo Borges, num capítulo inserido no seu excelente e apaixonante livro “Francisco Desafios à Igreja e ao Mundo”. Embora licenciado em Filosofia, não sou de forma alguma, academicamente falando, um teólogo. Por tal facto, peço sinceras desculpas aos especialistas em Teologia por eventuais facadas nesse nobre e respeitoso tratado sobre Deus (Teologia).
Como o cordeirinho que, pelos fecundos e verdes prados, vai seguindo a sua progenitora, tosando aqui, ali e acolá os tufos de ervas mais verdes e tenras, assim vai ser a minha mitigada e temerosa reação na companhia da minha comilona e sabichona ovelha.
Esta sabichona progenitora, ao pôr um travão no apetite desenfreado do seu filho cordeirinho, atirou-lhe abruptamente com esta pergunta: – Tu sabes, amor meu, de que sofre este prado? (o prado, aqui, na linguagem bucólica da progenitora, era a Igreja). A progenitora começou, então, a desfiar o seu rosário: “A Igreja Católica, a maior, a mais poderosa, a mais internacional das Igrejas, essa grande comunidade da fé, está realmente doente. Sofre da ânsia do poder, à semelhança do sistema romano; é caracterizada pelo monopólio da verdade, pelo juridicismo e clericalismo, pela violência espiritual e pelo medo do sexo e da mulher”.
Um Teólogo, que por ali, pachorrentamente passeava, introvertido na sua silenciosa meditação, interveio: “é preciso voltar a Jesus Cristo, ao que foi, é, quis e quer. A Igreja torna-se crível se disser a mensagem cristã a si mesma em primeiro lugar e se cumprir as suas exigências”.
“A Igreja tem de se entender, não como aparelho do poder ou empresa religiosa, mas como povo de Deus e comunidade de Espírito. A Igreja deve assumir as suas responsabilidades sociais. Não se trata de acabar com a Cúria Romana, mas de reformá-la segundo o Evangelho…” Mas o rosário ainda não acabou, vai ainda no segundo mistério.
Há uma certa dissonância entre as afirmações do Teólogo e aquilo que eu, como um desejoso humanista, penso e sinto. Para mim, a dissonância está, sobretudo, na não deslocação do tratamento supernatural da doença da Igreja para o tratamento natural. O tratamento supernatural da doença da Igreja está, segundo o Teólogo, controlado e liderado, exteriormente, pela identidade espiritual (Transcendental e Transcendente) de Jesus Cristo e seu modelo comportamental, extraído das narrativas dos Evangelhos.
Na minha leiga opinião, o tratamento natural da doença e do mal-estar da Igreja, interiormente, deve estar submetido e entregue ao controlo e liderança que vem da essência da nossa natural e ôntica natureza, com o seu imanente manto, feito de espiritualidade corporizada. As suas relações, transitivadas com imanência, estão explícitas em todos os relacionamentos feitos através da inteligente e dinâmica pessoa, com Deus, com o mundo, com todo o social e consigo mesmo. Estas relações, inerentes ao ôntico ser, são autónomas, livres e responsáveis. As suas mensagens de amor, paz, felicidade… saem da sua transcendental fonte para, após a confirmação humanística no campo existencial, a ela regressarem e em Deus, o Eterno, se concretizarem.
Autor: Benjamim Araújo
“A Igreja ainda tem salvação?”

DM
8 novembro 2017