Os povos satisfazem-se pela carteira, talvez seja prosaico dizer isto, mas o que conta são as contas e não as intenções ou teorias económicas, quer estas se situem à direita ou à esquerda. Na realidade o que se entende por direita ou esquerda? Numa abordagem popular diremos que essa questão já não diz coisíssima nenhuma a ninguém.
No ato de votar, é o porta-moedas da dona de casa quem comanda a opção política. Elas entendem quem governa bem ou mal pelo seu porta-moedas e estão a alhear-se cada vez mais para as questões ideológicas. E estas senhoras não precisam de ser doutoras em economia para perceber se têm o suficiente para os gastos: renda, água, luz, comer e vestir e divertir. O poder, intui-se dos seus argumentos quando falam de política, “é sempre uma luta de galos, galos que não se importam com quem está no “galinheiro”. Esta política de merceeiro, como lhe chamam os ideólogos, é tão real e palpável que se sobrepõe a todas as teorias económicas e financeiras por mais “científicas” que sejam; porta-moedas sem moedas para gastar é como as boas intenções de que está o inferno cheio.
Mas isso é redutor, dizem os políticos. Será como dizem mas é mesmo assim. Mas se refletirmos bem, que foi feito dos grandes princípios ideológicos da liberdade, igualdade, fraternidade herdados da revolução francesa? Para lá da liberdade que mais está ou foi concretizado? Que é feito dos princípios de justiça social, da sociedade sem classes, da revolução do proletariado? Na Rússia atual não estão. Onde estão os princípios da revolução cultural de Mao Tsé-Tung?
Nos discursos, no papel, nas palavras incendiárias de alguns corifeus, porque na prática, nos porta-moedas das donas de casa chinesas não se encontram. A palavra passa a metafísica quando não são coisas; o que está para lá do que é físico é quimera, sonho ou desejo; quando não satisfeitos, utopia. O poder do porta-moedas é tão poderoso que as oposições atuais portuguesas, perante os últimos dados económicos sempre dizem, “é preciso que a economia real chegue aos portugueses”. E a economia real é porta-moedas. Mas é igualmente verdade que é preciso ter que meter no porta-moedas. Só se pode distribuir a riqueza; a pobreza só reparte cotão.
E se lutássemos todos para acabar com os pobres em vez de estarmos a lutar para acabar com os ricos? Neste momento o povo começa a confiar mais, não porque as migalhas que o Governo distribuiu sejam muitas ou fartas, mas porque confia que a coisa não vai ficar pior. É tempo de saber que podemos contar com os cêntimos do porta-moedas. Este clima de estabilidade fiscal criou, só por si, um clima de estabilidade social. Quem sabe o que tem, sabe com o que conta.
Os aposentados, sobre quem parecia ter caído, como uma praga, o dever de tapar os défices orçamentais, está exaurido, mas o que lá está é deles. A carga de descontos sobre os de cabelos brancos determinou um clima de injustiça e de insensibilidade social que ainda não descolou do Governo cessante.
Autor: Paulo Fafe