Não apenas o ano que agora chega ao fim, mas já o anterior terminou sob o signo da incerteza e do pessimismo.
De facto, a pandemia de Covid-19 ajudou a demonstrar que nada é certo, nada é adquirido, não vale a pena fazer grandes planos e previsões porquanto muito facilmente saem gorados. É e foi assim em todo o Mundo.
Se em 20219 alguém tivesse dito que um vírus iria causar à escala mundial uma doença com tão graves consequências (perto de 300 milhões de infetados e 5,5 milhões de mortos), dir-se-ia que era um lunático ou estava a contar uma história de ficção científica.
Mas também rapidamente, o nosso avanço científico e tecnológico, a nossa capacidade económica e logística, conseguiu gerar uma janela de esperança, seja pelo papel dos profissionais de saúde que têm sido incansáveis na prestação de cuidados de saúde aos infetados, mas também por via dos medicamentos e das vacinas que muito rapidamente foram disponibilizadas para fazer face à doença.
Também ao nível ambiental, o ano que agora termina mostra um planeta cada vez mais degradado e sob ameaça das alterações climáticas. Porventura aqui, as causas humanas parecem estar na origem das consequências que se vão fazendo sentir de forma inelutável. De facto, a desflorestação e a extinção da biodiversidade, a poluição do ar, das águas e dos solos, o consumo excessivo de recursos não renováveis e a acumulação de resíduos (plásticos, por exemplo), o aumento das temperaturas, mas também o crescimento da população mundial (há apenas 50 anos éramos 3,5 mil milhões de pessoas e neste momento já ultrapassamos os 7,5), fazem antever um futuro sombrio.
Não estará afinal tudo interrelacionado? O vírus e a sua disseminação pelo planeta, o nosso comportamento face à Natureza, a globalização, a nossa tentativa de domínio absoluto sobre todas as coisas e seres vivos, não estão a gerar uma reação por parte da Natureza, no sentido de fazer diminuir a pressão humana sobre o planeta, procurando o restabelecimento de alguma forma de equilíbrio?
Aquilo que alguns denominam de Hipótese de Gaia, tem vindo a ser proposto por alguns pensadores e cientistas, sob a forma de uma hipótese em que o planeta surge como um gigantesco (à escala humana) organismo vivo, onde tudo e todos os seres vivos estão intrinsecamente ligados de forma extremamente complexa. O que cada um faz, afeta sempre, de algum modo os outros, para o bem ou para o mal.
Desta forma, os seres humanos, um dos constituintes deste todo, estarão a agir de forma consciente e irreversível para provocar, a muito curto prazo, senão a extinção, pelo menos graves danos na Terra, esta nossa mãe comum. E para já ainda não foi encontrado um planeta B. Do ponto de vista do planeta o vírus somos nós?
Autor: Fernando Viana