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A guerra dos incêndios

Não basta afirmar nas fases duras que se vão formalizar e incrementar programas de prevenção e combate aos fogos para que não se repitam. Os factos desmentem essas afirmações. E tudo acontece como sempre, sobretudo quando o ano é muito seco, como o atual.

A guerra prepara-se com ações. E quando aparece, combate-se com prontidão e eficácia. Um dos aspetos importantes é o da proximidade. Recordo a existência dos Governos Civis. Pode-se pensar que eram pouco válidos. O certo é que os governadores conheciam a região, os meios técnicos, os agentes envolvidos e dinamizavam as ações. Acabaram com eles há meia dúzia de anos e não preencheram um lugar vital para o combate.

Em artigo anterior referi a necessidade de programas televisivos de apoio à conservação da natureza e ao cuidado no uso do fogo. A televisão é uma empresa de comunicação social enormemente influente. Entra em casa de toda a gente. Tem programas de informação e distração muito ativos e importantes. Entre os diversos canais, há um que é público e pago pelos nossos impostos: a RTP. Atualmente, está sobretudo ao serviço do comércio e da publicidade, com programas muito enfadonhos. Por que não empenhar-se no combate à praga dos incêndios?

Por outro lado, a apresentação repetitiva e constante de imagens chocantes de labaredas é móbil para pessoas mentalmente débeis entrarem no jogo dos incendiários. Há diversas maneiras de ser importante, inclusive através da eclosão da calamidade. Creio que a moderação dessas imagens seria positiva.

A responsabilidade maior no âmbito dos incêndios é do Governo. É ele o primeiro a responsabilizar-se pelo que acontece. É digna de apreço a intervenção continuada do primeiro-ministro. Tem sido constante a sua presença nos espaços de apoio e resolução de meios. Mas está mal-acompanhado. Não tem equipa capaz. Necessitava de homens fortes, inteligentes e estrategas para concertarem políticas eficazes de eliminação desse inimigo primeiro, que é o fogo.

O verão ainda vai a meio. Nunca é tarde para rever políticas e atuações.

Há também um papel assaz importante a desempenhar: a identificação dos autores. São muitos os testemunhos que referem interesses e redes ocultas por trás dos incêndios. Esse papel pertence à justiça e às autoridades policiais. O País exige que cumpram o seu dever com firmeza, prontidão e eficácia.

Ultimamente, têm aparecido afirmações muito graves. As aeronaves contratadas ou aceites implicam custos muito elevados pagos hora a hora. E há incêndios que surgem nos espaços percorridos por elas… Recordo o que afirmava uma testemunha: “Perto daqui havia um incêndio a ser combatido por uma aeronave. Em todo o horizonte não havia mais nenhum. Passado algum tempo, eis que surge um novo na curva feita pelo engenho voador…”

O que se está a passar em Portugal é muito sério e grave. Oxalá chegue ao fim o mais depressa possível para bem de todos.

 

Autor: Manuel Fonseca
DM

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23 agosto 2017