É impossível fechar os olhos ao que se passa com a exploração do lítio em Montalegre. Os compromissos de exploração estão embrulhados em compadrios, pelo menos é o que aparenta. O que é o lítio? Segundo a enciclopédia consultada, o lítio é um metal muito leve e menos denso que qualquer dos outros metais. Este metal encontra-se em abundância em Portugal, talvez o nosso país seja atualmente a maior reserva da Europa. Tem várias aplicações na indústria e na medicina. Mas a discussão, ou guerra, que tentaremos analisar aqui é esta: por que razão temos em Portugal uma riqueza comparável à do petróleo ou gás natural e existe tanta guerra para impedir a sua exploração? O Nobel da química foi atribuído a três cientistas investigadores pelo seu trabalho no desenvolvimento das baterias mais potentes do mundo, as baterias de lítio. Foram premiados pelas suas investigações pela Real Academia Sueca das Ciências de Estocolmo, pelo impulso que estas baterias de lítio trazem de benefício aos transportes elétricos. Estas baterias inventadas por estes senhores têm caraterísticas ímpares uma vez que podem ser recarregáveis também com energias renováveis; parece ainda ser cedo para rezarmos o requiem aos fosseis mas o caminho encurta-se. Portugal não tem petróleo, não tem gás natural, mas tem lítio, representando este um tesouro. Mas então se esta riqueza está nas nossas mãos, onde está a guerra que atualmente se desencadeia entre as populações locais onde ele existe? Precisamente na maneira como tem sido explorado. Queixam-se as populações duma exploração que lhe contamina os veios freáticos, da poluição ambiental e mudança de paisagens. Tudo isto é verdade. Portugal está como aquela mulher que tem um colar rico mas que o não usa porque lhe faz doer o pescoço. Tem uma riqueza de gaveta. Mas esta senhora tem de fortalecer o pescoço e não cortá-lo para poder andar com o colar. E é isso que temos de encontrar para a exploração do lítio. É uma riqueza que Portugal não pode deixar de usar mas tem de o fazer de modo que não vá de encontro às populações. Há quem diga em Montalegre que essa exploração em nada contribuiria para a riqueza dos povos ali residentes. Parece-me que também aqui há que ter alguma estratégia de concessão. Em vez dos proprietários venderem as suas propriedades, deveriam antes negociar uma percentagem sobre os lucros da exploração do lítio. O Estado igualmente ingénuo, mais uma vez caiu como um patinho ao conceder a exploração a uma empresa de véspera, em vez de se fazer sócio desta exploração. Lembro que Calouste Gulbenkian, o conhecido senhor cinco por cento, nunca explorou petróleo e foi o homem mais rico do mundo apenas como negociador de petróleo! Quanto aos restantes malefícios causados pela exploração do lítio, já referidos, penso ser possível uma política de compromisso entre exploração, natureza e pessoas, a fim de se encontrar as melhores soluções. Portugal não pode nem deve perder esta riqueza, mas a riqueza a qualquer preço, também não. Há que pensar “que há mais vida para lá da riqueza”, mas também é bom pensar que a vida com riqueza é bem melhor que a vida com pobreza. Tântalo morreu de sede com água que lhe chegava ao queixo. Nunca a bebeu porque era esse o seu castigo. Portugal pode ser pobre com a riqueza a bater-lhe à porta? Quero acreditar que na era da tecnologia esta possa encontrar uma solução que satisfaça as partes.
Autor: Paulo Fafe