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A grande penitência

3. A celebração do sacramento da Penitência deve acontecer não apenas na Quaresma mas sempre que seja necessário. Um cristão consciente procura viver habitualmente na graça de Deus.

Esperar pela Quaresma para recuperar a graça de Deus é algo de semelhante a esperar pelo banho da manhã seguinte para lavar as mãos que se sujaram a meio da tarde.

4. É claro que a celebração do sacramento da Penitência exige a presença de sacerdotes disponíveis para atenderem as pessoas que desejem reconciliar-se.

Porque nem uma nem outra coisa podem ser muito agradáveis, permito-me dizer que tanto pode ser penitência (sacrifício) confessar-se como ouvir de confissão.

5. A Penitência-virtude designa as práticas voluntárias de mortificação, a que também se dá o nome de sacrifício. Sacrifício: fazer sagrado. Oferecer a Deus algo que me contraria, mas que sei ser da Sua vontade que eu faça.

Neste tempo da Quaresma sugerem-se três formas de penitência: a oração, o jejum e a esmola. Relacionada com isto existe a disciplina penitencial da Igreja, a que me referi em artigo anterior.

6. Há quem identifique o sacrifício com a mortificação corporal. Esta pode ser, realmente, uma forma de sacrifício, mas não é a única. Nem sei se será, em princípio, a mais aconselhável. Devo dizer, por exemplo, que não sou adepto das voltas de joelhos, embora compreenda e respeite as pessoas qua as dão. 

7. A prática da penitência-sacrifício é um dos pedidos da Mensagem de Fátima. Recordo, a propósito, palavras da Irmã Lúcia:

Em carta de 04 de maio de 1943 escreveu: «a verdadeira penitência que (Deus) agora quer e exige consiste, antes de tudo, no sacrifício que cada um tem de se impor para cumprir com os próprios deveres religiosos e materiais» (António Maria Martins, «Cartas da Irmã Lúcia», 2.ª edição, pag. 64).

No livro «Como vejo a Mensagem» diz que a penitência que Deus nos pede é, em primeiro lugar, o sacrifício que cada um tem de se impor a si mesmo para deixar a vida de pecado e enveredar por um caminho de honestidade, de pureza, de justiça, de verdade e de amor (Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, «Como vejo a Mensagem através dos tempos e dos acontecimentos», pag. 29-30); os sacrifícios que exige o cumprimento dos mandamentos da Lei de Deus».

E acrescenta:

(…) «Existem ainda muitos outros sacrifícios que Deus nos pede e espera de nós, como seja: socorrer o próximo nas suas necessidades, ajudá-lo a resolver, quanto nos seja possível, as suas dificuldades, a vencer as tentações e os perigos que os arrastam por maus caminhos; o privarmo-nos do que nos sobra para socorrer os que nada têm …» (Idem, pag. 46).

8. A grande preocupação do crente reside em procurar fazer a vontade de Deus, o que implica renunciar a coisas que gostosamente faria mas não deve fazer. Esta renúncia é um sacrifício, é uma penitência.

O amor mútuo é o grande sinal identificativo do cristão (João 13, 34-35; 15, 12. 17). Se faço o sacrifício de andar de joelhos mas não faço o sacrifício de ir ter com o irmão com quem estou desavindo e fazer as pazes; mas não faço o sacrifício de acompanhar um doente ao médico; se no convívio com os outros sou uma pessoa intratável…

A grande penitência que se nos pede é a do cumprimento dos nossos deveres: deveres de estado e profissionais, deveres religiosos e sociais. Também os deveres de cidadania, de que muitos cristãos se esquecem, pensando que a participação na vida da comunidade e a intervenção política são só para os outros.

 

Autor: Silva Araújo
DM

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9 março 2017