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Os instrumentos acústicos e os instrumentos eletrónicos).Ao que parece, foi na música ligeira americana dos anos 50, que começou a lamentável introdução de inovadoras e estridentes guitarras elétricas. O fenómeno começou em artistas de “rock” e gradualmente infiltrou-se na música ligeira. Logo depois, na música tradicional americana (o “country” e o “bluegrass”, p. ex.); a qual, por ser tão orgânica e poderosa, não conseguiu destruir. A guitarra clássica é, de Itália e Espanha ao Brasil e ao norte da Argentina, eventualmente o instrumento que mais nos toca o coração e o sentimento, não precisando de qualquer “aperfeiçoamento”. Parecidos com ela, temos também o alaúde, a harpa, o banjo (e a própria viola “campaniça”, a “braguesa” e o cavaquinho). Noutro registo, são também “sagrados”, o arrebatador violino, o escuro e solene violoncelo, a delicada flauta, o florestal oboé, o meditativo e romântico piano (herdeiro do mais estridente cravo), o sonoro e penetrante órgão…
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A degradação da sonoridade musical pela alteração eletrónica).Só mesmo pessoas incapazes de apreciar a beleza do som da guitarra clássica é que podem ter ousado “eletrificar” o clássico instrumento. Isso é um dado adquirido. Por outro lado, nota-se da parte delas, a intenção arrogante e ignorante de romper com uma cultura de beleza, de equilíbrio e de harmonia (musical). De criar um novo caldo cultural de desordem, ruído, irracionalidade, como padrão da Arte. No meio desse ruído, qualquer bocadinho passageiro de melodia, de harmonia, logo passa a ser considerado extraordinário e “genial”, por parte das novas gerações, musicalmente intolerantes, ignorantes e deseducadas.
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A excessiva amplificação sonora, em “discotecas” e festas ao ar livre).O fenómeno evoluiu de tal maneira que, como toda a gente sabe, numa qualquer “discoteca”, só aos gritos conseguimos ser ouvidos pelos nossos amigos. E depois, vêm os agressivos efeitos luminosos e a trepidação causada pelos amplificadores sonoros, que até os ossos nos penetra. A moda pegou de tal maneira, que em qualquer romaria popular, os altifalantes têm de estar ligados no máximo. Mesmo que até, quem esteja a actuar seja um tradicional grupo folclórico. Estas maluqueiras estão de tal sorte enraizadas que, em Agosto de 2017 estive nas festas da ruralíssima Baião e permaneci para a noite. Fiquei então parvo, ao constatar que, certo grupo de música moderna pôs-se a actuar e a organização ligou os amplificadores no máximo. Tive de pôr as mãos a tentar tapar os ouvidos e, de imediato recuei para bem longe da fonte sonora; o que, aliás pouco adiantou. Porém, reparei que entre as centenas de pessoas (jovens e velhas!) que estavam a assistir, ninguém dava mostras de se sentir incomodado. Vim-me logo embora, claro está… Por outro lado, certas zonas das nossas tão democraticamente geridas cidades, são assoladas por fenómeno idêntico, o das barulhentas esplanadas com “música” à noite, que não permitem descansar e dormir a quem trabalha ou estuda. É “o pugreso”, como dizia o outro…
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O uso, na Rádio, de barulhentos separadores sonoros eletrónicos).A nossa RDP 2, que sempre passou apenas música erudita (mesmo no pós-25 de Abril) dá-se agora ao luxo de tocar diariamente algum jazz (e música “experimental”); e tem por director há bastantes anos o dr. João Almeida, autor daquelas cultas, “perspicazes” e já famosas entrevistas a pacientes historiadores, que se ouvem agora em “reprise” aos sábados de manhã. Num país assim, em que como dizia alguém, “a má moeda expulsa a boa moeda”, não admira que o 1.º canal da RDP, dedicado ao povo menos culto, intoxique quotidianamente os ouvintes com uma “short list” de intérpretes, alguns dos quais parecem verdadeiros “afilhados” (ou padrinhos?) da casa. Porém, o que quero aqui condenar especialmente é o longo, estridente e repetitivo “jingle” eletrónico que antecede e sucede aos noticiários que são emitidos à hora certa (9, 10, 11 horas, etc.). Tão incomodativo que, no meu caso pessoal, mal ele começa a ouvir-se, mudo logo “pavlovianamente” para a RR ou TSF, p. ex.. Quem é que determina estas coisas? Por que “carga de água” é que o ouvinte, antes e depois de lhe ser transmitido o noticiário, tem de ser agredido com aquelas peças de pseudo-música de sintetizador (ou lá o que é)? Já ouvi dizer que é porque o locutor António Macedo se reformou e deixou de ter mão naquilo. É pouco provável, pois este decano da rádio, quando era mais novo também apoiou activamente outras “estridências” ainda bem maiores, como foi a mais que injusta invasão do Iraque em 2003.
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Bach, Handel, Vivaldi já cá andavam há mais de 300 anos).“ Não havia necessidade”, como dizia o famoso diácono de Lamego… Por quê, antes e depois das notícias, as rádios não passarem algum pequeno fragmento notável de música acústica da boa, seja ela ligeira ou erudita, música de autor? O povo não merece, só merece lixo? Pode ser Verdi, Rossini, Donizetti, Beethoven, Johann, Strauss, Tchaikovski, Chopin, Wagner, Schubert, Mozart, Bizet, Dvorjak, Glinka, eu sei lá… Ou até alguma marcha ou canção antiga do grande Ferrão, ou de Portela, Fred. Freitas, Alves Coelho, José Afonso, Variações, Deolinda. Ou Dubliners; ou clássicos da Índia, do Líbano, de Zanzibar ou até de Marrocos. Agora, tocar “lixo” só para incomodar, é que é no mínimo, uma provocação e uma falta de respeito.
Autor: Eduardo Tomás Alves