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A grande labareda

O Presidente da República, o primeiro-ministro, os ministros mais relacionados com a floresta estiveram presentes; olharam a grandeza da tragédia e sentiram-se impotentes perante a rudeza dos acontecimentos. Ninguém é potente ou tem poder para catástrofes naturais. Este incêndio é uma catástrofe natural e contra isso nada valem as teorias dos entendidos, pouco adiantam aos conceitos dos espertos, de nada adiantam as medidas preventivas. O que falhou? Penso que nada de substancial. Apontam-se pequenas falhas mas parece-me mais uma tentativa de encontrar culpado ou culpados. Meios aéreos e terrestres, em quantidade e qualidade, nada travava aquela labareda assassina.

Os ventos de rumos diversos espalhavam as fagulhas  ardentes a quilómetros de distância, fazendo novos incêndios fora do alcance dos bombeiros que não podiam estar aqui e acolá ao mesmo tempo. Não têm o poder da ubiquidade. Mas depois dos discursos, depois das análises, depois das boas vontades, depois da generosidade de anónimos, há medidas a tomar que sobrelevam as restantes: é preciso desbloquear de imediato meios financeiros para acudir aos que ficaram sem casa, sem fenos, sem animais, sem alfaias agrícolas, sem roupa par vestir ou dormir,  sem qualquer teto onde se  arrimem.

Não constituam gabinetes de crise, não nomeiem comissões de inquérito, não façam gabinetes de ajuda. Vão buscar os dinheiros à EU que estão destinados a catástrofes naturais, juntem as dádivas dos anónimos, acrescentem com as verbas governamentais para o efeito orçamentadas, juntem tudo, façam disso um bolo e comecem a partir as fatais. Quem está melhor colocado para saber quem mais precisa do que as câmaras municipais? Mas isto é para ontem, porque o dia de hoje reclama assistência imediata aos martirizados povos de Pedrógão Grande e terras limítrofes. Saciem a sede antes que se morra dela. Deixar passar o tempo é aumentar a tragédia porque é passá-la do fogo terrestre para o inferno da alma. E se aquele mata este arrasa;  tenham presentes que as pessoas que ficaram sem nada já eram pobre mas, se não chegar até elas, a tempo de hoje, o lenitivo da ajuda material, irão passar de pobres a indigentes. Por amor de Deus, deixem-se de especulações e probabilidades sobre o que aconteceu. Não percam tempo com o que está mais que provado. Em força e de imediato para  a reconstrução das vidas daquelas gentes é o ditame que se impõe. Depois, se assim for do vosso agrado, então constituam mesas redondas, quadradas, grandes ou pequenas, tertúlias ou debates televisivos a granel.  Nunca os jogos florais fizeram mal a ninguém.

Os portugueses esperam que a ação governamental e presidencial sejam dinâmicas, concomitante com a urgência que se impõe. Se assim fizerem pode ser que as vincas do sofrimento se amenizem. Quando não, apenas a noite escura e o choro de desamparo. Caro leitor: a sua labareda já incendiou a sua generosidade? É esta a grande labareda. Não queira ficar de fora para não pintar na sua alma a cor da cinza dos queimados de Pedrógão Grande.


Autor: Paulo Fafe
DM

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26 junho 2017