twitter

A grande farsa em exibição

Com um início periclitante e atabalhoado, devido à matriz ambígua que lhe deu o ser, pois tinha na génese a chancela irrefutável de elenco derrotado, a farsa foi acrescida, no imediato, por uma contaminação de contributos vindos da ala radical de uma esquerda que se cristalizou e se especializou, nos bastidores e ao longo dos tempos, na onda do protesto. Neste momento, por questões tácticas ou por acordos de silêncios, os neo-marxistas serenaram os apupos e enrolaram as bandeiras esfarrapadas. Agora, controlados, por meia dúzia de alvíssaras, pelas cúpulas de quem dirige a farsa fazem vénias bem reverenciais e manifestam a sua raiva em simulacros esquizofrénicos só para inglês ver e para fazer a necessária prova de vida. 

Eleitoralmente, os radicais sempre se situaram no campo da insignificância e da marginalidade governativa, mais por razões de ingratidão de um povo inteiro que não lhes reconhece o papel relevante que dizem ter e fazer na sanidade das instituições e do país e na defesa intransigente dos valores republicanos e democráticos. Os timoneiros da classe operária, os defensores dos pobres e dos espoliados, os intrépidos arautos dos trabalhadores e do “nosso povo” levam banhadas em cima de banhadas nos actos eleitorais. Isto verifica-se deste há quarenta anos! Não é normal!

Não pode ser normal! O que acontece nesta matéria só pode ser explicado pela falta de respeito e pela falta de amadurecimento político da classe popular! Por inconsciência e por deformação do eleitor! Pelo aburguesamento do trabalhador! Fundamentalmente, por questões que se prendem com a incompreensão ideológica. Um facto me parece evidente e que ressalta de imediato: melhor nível de vida das pessoas, corresponde a pior resultado eleitoral para os neo-marxistas e neo-trotskistas. Daí, é lógico concluir-se que essa gente da esfera radical aposte e invista demasiado na pobreza. Quantos mais pobres, mais possibilidade de ter votos.

Mas voltemos à farsa da geringonça. A farsa tem um andamento e um enfoque muito peculiares, tocada pela encenação e pelo embuste. Pelo optimismo que irradia e pela demagogia que exara. Pelos sorrisos que se estampam nos rostos dos actores da segunda escolha e pelas esperanças marteladas que debitam a propósito e a despropósito. A plateia, sempre efusiva, rejubila com frenesim pelas cenas já em exibição e aguarda expectante pela apresentação dos próximos episódios. A bilheteira tem receitas extraordinárias mais que garantidas, sejam elas arrecadadas pela via das cativações, vindas do perdão fiscal, do resgate do BPP ou das entregas exigidas ao Banco de Portugal.

Seja ainda pelo aumento complacente e amistoso dos impostos. Até a venda dos aviões conta. O chefe do elenco não tem pejo em dar todas as garantias de boa exibição e sempre sem cobrança de factura para o torturado contribuinte que, com eles, está a salvo do saque dos especuladores. Esta é a promessa! E “palavra dada é palavra honrada”. Portanto, é promessa confiável, com selo de Costa e com o aval sereno e sempre comentado de Marcelo.

O país vive um momento único na sua história política. É engraçado como os políticos da governação enrolam os números e como mistificam e desmistificam as contas. Como encomendam pareceres e controlam relatórios. Como argumentam e como se silenciam. Sempre com meias verdades, com inverdades e com pós-verdades. Clareza, nem por isso. O que importa, neste tempo novo, tempo da grande farsa, é parecer, é fazer de conta, mas nunca ser. 


Autor: Armindo Oliveira
DM

DM

9 fevereiro 2017