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A globalização da indiferença

1. Na mensagem que escreveu para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado o Papa Francisco alerta para o perigo da «globalização da indiferença». Convida a prestar atenção ao estrangeiro que nos bate à porta. Que deixa a própria terra – por causa do terrorismo, da violência da guerra, de desumanas condições de vida – em busca de uma vida melhor. Acontece de essa busca, às vezes, terminar na desilusão de quem se vê rejeitado e marginalizado.

«O mundo atual, escreve o Papa, vai-se tornando, dia após dia, mais elitista e cruel para com os excluídos. Os países em vias de desenvolvimento continuam a ser depauperados dos seus melhores recursos naturais e humanos em benefício de poucos mercados privilegiados».

Usam-se as pessoas como coisas. Como oportunidades de negócio. O «verdadeiro desenvolvimento, porém, é aquele que procura incluir todos os homens e mulheres do mundo, promovendo o seu crescimento integral, e se preocupa também com as gerações futuras».

Face à situação recomenda a prática de atitudes humanas sintetizadas em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar.

2. Há os que fogem da guerra e são rejeitados pelos produtores de armas.

«As guerras abatem-se apenas sobre algumas regiões do mundo, enquanto as armas para as fazer são produzidas e vendidas noutras regiões, que depois não querem ocupar-se dos refugiados causados por tais conflitos.

Quem sofre as consequências são sempre os pequenos, os pobres, os mais vulneráveis, a quem se impede de sentar-se à mesa deixando-lhe as «migalhas» do banquete» (cf. Lc 16, 19-21).

3.É imperioso ver no migrante um irmão ou uma irmã e pôr em prática a mensagem de Jesus. Quem lê o Evangelho deve repetir, em relação aos migrantes, aos refugiados, aos desalojados e às vítimas do tráfico de seres humanos o comportamento do Bom Samaritano (Lc 10, 30-37). Infelizmente também surgem as atitudes do sacerdote e do levita que, face às dificuldades dos outros, passam ao lado. Talvez sossegando a consciência com diversas razões, que não invocariam se colocassem no centro das preocupações o bem da pessoa humana, como recomenda o Papa.

«Em cada atividade política, em cada programa, em cada ação pastoral, lê-se na mensagem, no centro devemos colocar sempre a pessoa com as suas múltiplas dimensões, incluindo a espiritual. E isto vale para todas as pessoas, entre as quais se deve reconhecer a igualdade fundamental.

Por conseguinte, o desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento económico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo».

4.É compreensível o receio em relação ao estranho que nos bate à porta. Há precauções que a verdadeira prudência recomenda. Mas isso não deve levar a gestos de desumanidade.

Escreve o Papa: «As maldades e torpezas do nosso tempo fazem aumentar o nosso receio em relação aos “outros”, aos desconhecidos, aos marginalizados, aos forasteiros (…). E isto nota-se particularmente hoje, perante a chegada de migrantes e refugiados que batem à nossa porta em busca de proteção, segurança e um futuro melhor.

É verdade que o receio é legítimo (…). O problema não está no facto de ter dúvidas e receios. O problema surge quando estes condicionam de tal forma o nosso modo de pensar e agir que nos tornam intolerantes, fechados, talvez até – sem disso nos apercebermos – racistas».

5.Através da realidade dramática dos migrantes e refugiados, escreve o Papa Francisco, «o Senhor chama-nos a uma conversão, a libertarmo-nos dos exclusivismos, da indiferença e da cultura do descarte.

Através deles, o Senhor convida-nos a reapropriarmo-nos da nossa vida cristã na sua totalidade e contribuir, cada qual segundo a própria vocação, para a construção dum mundo cada vez mais condizente com o projeto de Deus».


Autor: Silva Araújo
DM

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29 agosto 2019