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A gestão dos clubes portugueses

Em Portugal, são muito raros os dirigentes que possuem uma visão de desenvolvimento e sustentabilidade dos seus clubes, a longo prazo. O que mais temos são pessoas impreparadas para fazer face aos enormes desafios, à complexidade e às exigências que a gestão dos clubes impõe. A gestão dos clubes de futebol tem características “sui generis “, uma vez que esta não pode estar dissociada da paixão dos adeptos, e essa paixão, sabemos nós, tolda amiúde o discernimento desses mesmos adeptos. Talvez por isso mesmo andemos a assistir, na última década, década e meia, a uma clara sobreposição da componente do negócio a tudo o resto. O importante é fazerem-se muitos negócios de transferências e respetivas comissões absolutamente escandalosas. O adepto é engolido na confusão e acredita de forma cega que tudo está a ser feito em prol do clube e do seu sucesso desportivo, quando raramente assim acontece. Analisemos esta dimensão mercantilista do futebol: entre abril de 2020 e março de 2021, os clubes portugueses pagaram de comissões a agentes cerca de 60 milhões de euros. A falta de regulação no futebol tem tido como resultado valores de transferências que ultrapassam o exagero, comissões demasiado altas e um excesso de transferências (em número), originando instabilidade nos planteis, o que é muito conveniente para os dirigentes, a avaliar pelas investigações levadas a cabo pelo Ministério Público. Nos últimos anos, as receitas dos nossos clubes não têm parado de crescer, as transferências e as comissões são cada vez mais chorudas, e os salários dispararam para valores incompreensíveis e incomportáveis. Em suma, a enorme quantidade de dinheiro que tem entrado no futebol português não tem favorecido os clubes, que continuam a atravessar constantes dificuldades, mas têm servido para enriquecer dirigentes, agentes e jogadores, colocando em causa o futuro dos próprios clubes enquanto entidades de interesse público. Por fim, gostaria de salientar que, na Bélgica, na passada semana, foram acusados 56 dirigentes, empresários, jogadores e árbitros, envolvendo onze dos dezoitos clubes do campeonato belga, numa investigação que começou em 2018. Aguardemos com serenidade até o mesmo acontecer por terras lusas.
Autor: João Gomes
DM

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27 janeiro 2022