É uma afirmação que já se tornou um lugar comum. Na rádio, na televisão, nos jornais, comentadores, opinadores e, sobretudo, políticos repetem à saciedade que, actualmente, Portugal tem «a geração melhor (sic) preparada de sempre». E, de tantas vezes repetida, passa de afirmação gratuita a verdade acriticamente aceite.
Curiosamente, o português calino em que está formulada faz da própria afirmação um auto-desmentido: mostra que a tal geração não distingue entre o comparativo de «bom» e o comparativo de «bem». Ou seja: pelo menos no que à língua materna respeita, não estará tão bem preparada quanto se pretenda fazer crer.
Temos sim, a geração mais diplomada de sempre – o que é completamente diferente e nada (ou muito pouco) tem que ver com mais ou menos preparação. O facilitismo que se instalou no nosso sistema de ensino, a indisciplina na Escola, o laxismo na avaliação, a ausência de rigor nos comportamentos e nos conhecimentos, a deliberada confusão entre exigência e despotismo – tudo isto se junta, conjuga e inter-age de forma a tornar quase automático o acesso ao diploma.
E assim chegamos a uma geração de diplomados… desempregados e… impreparados e… ludibriados! Sim, ludibriados! Porque uma Escola que lhes disse que os ia preparar para a vida, que, ao fim de uns anos, lhes disse que estavam preparados e lhes deu mesmo um diploma a dizer que estavam, afinal não preparou coisa nenhuma que não fosse uma grande desilusão!
Basta prestar atenção à maioria: ver como escrevem, ouvir como falam, observar o desenho do raciocínio e o estádio cultural de muitos destes diplomados . E logo concluímos que foram «burlados» pela Escola que os diplomou.
Mas os outros? Os «craques»? Os alunos brilhantes que se distinguem das mais diversas maneiras, nas mais diferentes áreas – e de que, justamente, se faz tanto anúncio? Bom, esses são os génios, são aqueles que brilham neste ou em qualquer outro sistema de ensino e que brilharão sempre e em quaisquer circunstâncias e independentemente delas. E apesar delas. Mas são excepções. São minorias. São comandantes de um exército sem soldados. E sem estes não se ganham batalhas. Muito menos guerras.
De resto, é sintomática a forma como o Ministério da Educação nos apresenta os resultados obtidos nas diferentes disciplinas: através de médias aritméticas. Isto é: põe os resultados da minoria óptima a mascarar de bons os resultados da maioria má. Mas assim a média fica boa ou razoável – uma forma de enganar os distraídos. E de branquear um sistema falsamente pedagógico e falido. (Qualquer pessoa com formação pedagógica sabe que a maneira honesta de apresentar resultados é com outras medidas de tendência central – a moda e a mediana. Mas isso são outros contos).
Uma questão final: são a novas gerações menos inteligentes ou menos capazes do que as dos seus Pais e Avós? Evidentemente que não! Estes tiveram a sorte de uma Escola que lhes exigiu esforço, trabalho e os treinou a enfrentar obstáculos e dificuldades. Aquelas tiveram e têm o azar de uma Escola que lhes mentiu e mente um projecto de vida acolchoada em algodão em rama côr-de-rosa.
Nota: por decisão do autor, este texto não obedece ao impropriamente chamado acordo ortográfico.
Autor: M. Moura Pacheco
A geração «melhor» preparada de sempre
DM
31 julho 2019