No seguimento da comemoração levada a efeito no ano transato, lembrando o Seminário e tudo o que com ele se relaciona, mormente a lembrança dos grandes vultos da música sacra e de tantas outras reflexões em que se debateram as principais exigências dos tempos atuais, vou continuar a historiar algo daquilo que sei da instituição que jamais esqueço pelo apreço que lhe tenho.
No passado, toda a formação era exclusiva do Seminário desde a nossa entrada no 1.º ano (5.º ano de escolaridade). Hoje, o sistema é um pouco diferente, sobretudo nos primeiros anos em que, além dos seminaristas entrarem com outra maturidade, passando pelo pré-seminário, onde se tenta dar-lhes os principais objetivos dos conteúdos formativos, dialogando com eles, apontando-lhes o caminho em conformidade, tendo em vista o seu futuro clerical, frequentam o Seminário de Nossa Senhora da Conceição, assistindo, a nível curricular, às aulas, no Colégio D. Diogo de Sousa, até ao 12.º ano, passando, em seguida, para o Seminário Conciliar, ingressando na Faculdade de Teologia da Universidade Católica. Em paralelo, nos Seminários, recebem toda uma formação complementar que lhes abre todo um caminho em prol do seu ministério sacerdotal, vincando os ideais valores, formando cidadãos que possam dignificar o seu bom desempenho, mesmo aqueles que optam pela vida laical.
Na sua grande maioria, os resultados têm sido eficazes, mas há sempre as “ovelhas desavindas no rebanho” que não controlam os ideais que receberam. Felizmente, na sua grande maioria, tanto leigos como sacerdotes, dão os verdadeiros frutos colhidos das árvores que se conservam com raízes saudáveis, fortificadas numa terra bem trabalhada e fertilizada.
No passado, a ação pedagógica, dentro e fora do Seminário, tinha os seus pontos negativos, não era tudo aceitável, sobretudo no que toca à parte disciplinar, dependendo muito de cada educador/professor. Havia metodologias que levavam a certos exageros e o Seminário não fugiu à regra. Isto verificava-se desde a escola do ensino primário (1º ciclo). Era a mentalidade do tempo. Grande parte dos pais dava essa autorização aos professores ou a qualquer outro educador, caso houvesse má educação ou falta de interesse para o estudo. Eu, pessoalmente, não me sinto revoltado com algumas dessas práticas que, na minha geração, eram usuais, sobretudo nos primeiros anos de ensino a começar na Escola Primária, antes pelo contrário, agradeço muito a formação que recebi.
Hoje, infelizmente, passou-se, em muitos casos, para o extremo oposto, vendo-se alunos a desrespeitar os seus educadores a todo o momento, havendo casos de agressões físicas. Assim como é criticável o exagero, a esse nível, do passado, também condeno, com veemência, essas atitudes de alunos e de encarregados de educação a praticarem esses atos contraproducentes. Felizmente, isto não é geral, mas uma minoria, que seja, contamina todo um sistema que se deseja de sucesso nas várias vertentes educacionais. É preciso que os saibam educar com moderação, dando aos filhos o exemplo de cidadãos exemplares para que, no futuro, possam receber os bons frutos e não os azedumes das más práticas, sobretudo, na infância e na adolescência.
Devemos agradecer, eu e tantos outros, sacerdotes ou não, toda uma formação integral que tivemos a sorte de adquirir no Seminário, sendo ela curricular ou extracurricular, nas suas variadas vertentes. Havia, por exemplo, uma área chamada de Civilidade/Urbanidade em que se aprendiam as regras, que se constituíam como norma na sociedade. Temos o exemplo do ensino, teórico e prático, a nível das etiquetas, da cortesia, de determinadas cerimónias, religiosas ou não, e das boas maneiras, incluindo o saber estar à mesa durante as refeições, o saber dialogar, utilizar os talheres, a forma como se corta e come uma fruta ou qualquer outra sobremesa… Neste último caso, a avaliação era feita durante as refeições coletivas em que cada um de nós passava por comer ao lado do formador, numa mesa colocada no centro do refeitório, que nos avaliava o nosso bom ou mau desempenho nesta área, tão relevante, da vida em sociedade.
Autor: Salvador de Sousa