1. Os tempos não correm fagueiros para a moderação nem, obviamente, para os moderados. No mundo e em quase todos os sectores da vida, são os extremos que predominam, agredindo-se e correndo o risco de (mutuamente) se anularem.
2. Não foi por mero ornamento retórico que Eric Hobsbawm qualificou a nossa época como sendo a «era dos extremos». Os extremos são sedutores pela (aparente) clarificação. Mas tornam-se ameaçadores pela (perigosa) simplificação.
3. Estigmatiza-se a moderação como sendo incapacidade de optar. Acontece que a autêntica moderação nasce da capacidade de fazer a síntese entre diferentes e de operar a convergência entre contrários.
4. Habitualmente, preocupamo-nos com os erros doutrinais. E tendemos a negligenciar a falhas vivenciais.O ortodoxo não é aquele que aprende mais doutrina, mas aquele que procura viver melhor a doutrina que aprende. As duas dimensões são importantes. Postulam-se.
5. Uma síntese não é apenas uma condensaçãode posições diversas. É, acima de tudo, um esforço de encontroentre visões diferentes. Uma síntese acaba por ser o movimento que vai da tese para a antítese. A síntese não é, pois, o que vem apósa tese e a antítese, mas o que está entrea tese e a antítese.
6. Abrir pontesonde costuma haver murosé uma missão espinhosa, mas é igualmente um trabalho estimulante. É importante que se defendam pontos de vista próprios. Mas também é salutar que não falte abertura às posições dos outros, ainda que pareçam opostas.Na procura da verdade, há certamente correcções a fazer e precisões a efectuar. Mas tais correcções e precisões devem surgir mais como um serviço fraterno do que como uma sentença inapelável.
7. No tempo, todos participamos da condição de «homo viator». Ainda não atingimos a meta. Ainda somos (todos) viandantes, peregrinos de uma pátria cujos vislumbres nos vão sendo oferecidos.
8. Numa Igreja que se vê como um corpo (assim no-la apresentou S. Paulo), todos são portadores de um carisma, de um dom. Os carismas e os dons não são estanques. Circulam em todos e interpelam-se entre si. A verdade é sempre para procurar. Alguma vez será para possuir? Fundamental não é possuir a verdade, mas deixar-se possuir pela verdade.
9. Mantenhamos, por isso, a indispensável coerência nos princípios e não desleixemos o inadiável compromisso com a sua aplicação.Quem não ama o próximo como pode pretender amar a Deus?
10. Não separemos o que Deus uniu. Foi Deus que uniu a verdade e o amor, a doutrina e a caridade. Neste caso, querer menos que tudo é querer nada!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira