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A “excelência clínica” e os serviços sofríveis…

Foi evento mediático a atribuição da “excelência clínica” ao Hospital de Braga, alcançando o topo das 124 unidades hospitalares, classificadas pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS), de acordo com os padrões estipulados nos últimos dados colhidos pelo Sistema Nacional de Avaliação em Saúde (SINAS), no período de 26 de julho de 2016 a junho do ano seguinte. Apesar da satisfação e mérito pela inquestionável competência de algumas práticas da medicina residente no hospital bracarense, seria injusto e especulativo nomear a melhor instituição hospitalar do país, quando este processo de avaliação, com participação voluntária, não teve a adesão de outros grandes hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), entre os quais o Hospital S. João do Porto. Esta distinção da conduta clínica do Hospital de Braga revela o nobre e elevado grau de empenho da competência técnico-científica dos seus recursos humanos na área da medicina. Contudo, paira uma visão sofrível e obsoleta nos serviços de apoio, com maior impacto negativo nas áreas de atendimento ao público das consultas externas e internamento. Desde 2009, aquando da tomada da gestão privada do ex-Hospital de São Marcos, no âmbito da Parceria Público-Privada (PPP), o Grupo José de Mello Saúde “estacionou” no desenvolvimento de procedimentos funcionais de modo a diminuir as longas filas de espera para os utentes efetivarem a admissão. Quase perfeito e desejável, seria o hospital da “Cidade dos Arcebispos” ter a classificação máxima, não em oito áreas clínicas, mas em todo o seu universo funcional, principalmente nos serviços básicos de maior afluência de utentes. Por outro lado, as listas de longa espera para uma consulta de especialidade no Hospital de Braga são um labirinto e uma frustração para os utentes do SNS, e neste caso, uma nódoa na “excelência” organizacional desta instituição hospitalar. Não basta vangloriar-se da sua posição de topo, é preciso demonstrar resultados de verdade nos pontos negros. Mesmo admitindo que compete a um hospital definir o nível de prioridade de acordo com o historial clínico descrito pelo médico proponente que o referenciou, desde a data da entrada do pedido eletrónico de agendamento da marcação da consulta a determinadas especialidades, o prazo ultrapassa largamente o que seria favorável à excelência da gestão do tempo de espera. A excelência num hospital no seu verdadeiro sentido conceptual, não é a condução uniforme à área clínica, é todo um universo adjacente à eficácia coletiva da sua funcionalidade estrutural, organizacional e social.
Autor: Albino Gonçalves
DM

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5 novembro 2018