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A evolução democrática em Angola

A diversidade étnica de norte a sul e de este a oeste, abrangendo, por vezes, outros países, com as suas diferenças étnico-culturais das diversas etnias, que formataram um país, com fronteiras inadequadas ao tempo da colonização e raízes ancestrais polifacetadas, originaram divergências inter-étnicas difíceis de convergirem, no sentido de evitar conflitos, como os que ocorreram ali.

Esta situação verificou-se ao longo de anos, até Angola se começar a estabilizar, a partir da 22 de fevereiro de 2002, sob a presidência de José Eduardo dos Santos, com quem tive a oportunidade de contactar. Com o curso de engenheiro de petróleos tirado na URSS, era um jovem culto e com visão de futuro para Angola, sendo Presidente Agostinho Neto, que, apesar da sua ideologia política, se orientava para uma Angola coesa e unida e tinha subjacentemente um espírito parcialmente pró-ocidental. O Presidente Agostinho Neto foi ao tempo impelido a recorrer ao apoio de Cuba e a outros países de Leste, pois foi-lhe negado por Portugal o apoio do exército português.

Tivemos o privilégio de o conhecer de perto, convivendo com grande espírito de compreensão política, analisando situações complexas pós-independência nas suas deslocações à Lunda, onde era nosso anfitrião na Casa da Direção Geral da Diamang.

Ao desaparecer prematuramente após a independência, em tratamentos da saúde na União Soviética, sucedeu-lhe José Eduardo dos Santos.

Nessa época Angola passou por períodos conturbados, em lutas armadas partidárias, mas com determinação, sentido de unidade nacional e vendo Angola como um todo, conseguiu reunir condições para governar e presidir a uma nação, fortemente afetada pela guerra civil, com a destruição, quase geral, das suas infraestruturas aeroportuárias, marítimas, viárias e de natureza industrial.

Teve o mérito, independentemente de determinadas decisões políticas e militares que foi obrigado a tomar, de ter contribuído para a unificação, segurança e reconstrução de Angola. Num período algo complexo e difícil nas decisões, foi determinante a sua ação para recriar um país com uma economia baseada nas suas potencialidades comerciais, mineiras e industriais.

Apesar da sua formação ter sido num país, ao tempo, de ideologia fortemente leninista-marxista, isto não impediu que tivesse visão e abertura para, com forte sentido de Estado e poder presidencial/governativo, dar a Angola uma dimensão estruturante para o seu desenvolvimento atual, tornando o país numa das economias mais emergentes de África, fora os problemas intrínsecos que lhe possam estar subjacentes.

O presidente José Eduardo dos Santos teve a visão, passados 38 anos à frente dos destinos de Angola, que devia deixar o poder, após ser um dos construtores da paz a seguir à fraturação do país por guerras internas duradoiras, tendo deixado um legado importante para a história de Angola.

Sucede-lhe o Presidente João Lourenço, que desde jovem marcou a sua posição solidária e humanista, tendo passado pela área da gestão dos diamantes, como um dos primeiros gestores da Companhia de Diamantes de Angola, após o signatário cessar as suas funções como diretor-geral e administrador da Diamang em Angola, em 3 de dezembro de 1977. O Presidente já ao tempo demonstrou ser uma pessoa simples, com princípios e compreensivo, sem ambições de natureza económica.

Tem condições para ser um continuador da democratização de Angola, como um dos exemplos em África, considerando a sua experiência e sendo político respeitado, prosseguindo o caminho já alicerçado, sem deixar de introduzir as mudanças em continuidade, com expectativa e garantia futura para Angola.

Portugal terá que ver em Angola um país novo e livre, respeitado em evolução democrática e com relações bilaterais condizentes com a autenticidade da sua independência, procurando uma aproximação oficial, cada vez mais próxima, em que a língua é o principal motor de identidade e entrosamento dos dois países, pois, apesar do passado, temos que ver em Angola uma forte ligação efetiva e da qual não nos podemos nem devemos desvincular, com relações diplomáticas próximas.

Não posso esquecer, após a catastrófica ponte aérea, a frase que proferiu o Presidente Agostinho Neto numa viagem de helicóptero do Dundo para o Lucapa, em 3 de novembro de 1977, hoje uma cidade importante da Lunda Norte, em que fui o primeiro habitante de casa de construção definitiva, em dezembro de 1960, e parcialmente planeada por nós, em que nos disse “Os portugueses vão voltar a Angola, como país independente, para partilhar connosco o desenvolvimento do país, em comunhão de língua com uma presença diferente e desvinculada da colonização”.


Autor: Bernardo Reis
DM

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10 setembro 2017